Alagoas registrou no ano passado 193.849 ocorrências emergenciais com Interrupção de Energia Elétrica, de acordo com dados do setor de Qualidade da Distribuição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), analisados pela Agência Tatu. Esse número é seis vezes maior que o registrado em 2009, início da série histórica disponibilizada pela Aneel. Naquele ano, foram registradas apenas 32.297.

Ao longo dos anos, número de interrupções de energia aumentou (Ilustração: Lucas Thaynan)
Os dados também revelam que desde que a Equatorial Energia Alagoas assumiu a operação da Companhia Energética de Alagoas (Ceal) e a distribuição de energia no estado, houve um aumento no tempo médio de deslocamento, ou seja, o tempo para o atendimento para cada ocorrência, que é registrado em minutos.
Em 2018, quando a Equatorial ainda não era a distribuidora local, o tempo era de 30 minutos e 15 segundos. Em 2019, quando a operação passou a ser feita pela empresa, o tempo passou para 32 minutos. Já em 2020, os alagoanos passaram a esperar mais nove minutos e oito segundos para serem atendidos pelas equipes.

Ilustração: Lucas Thaynan/Agência Tatu
Ao longo da série histórica de 12 anos, o tempo médio de execução do serviço até seu restabelecimento pela equipe de atendimento, também em minutos, saiu de 31 para 52 minutos, representando um aumento de mais de 67% no período de 2009 a 2020.
Somente nos três primeiros meses deste ano, Alagoas registrou 44.072 ocorrências de falta de energia elétrica. Para o primeiro trimestre, o tempo de deslocamento foi de 50 minutos e o tempo médio de execução de uma hora, um minuto e 44 segundos.

52 minutos foi o tempo médio de atendimento das equipes durante serviço de reparo
De acordo com o engenheiro elétrico Edson Martinho, presidente da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), as constantes quedas de energia podem ocasionar diversos danos aos eletrodomésticos, como TVs, som entre outros itens da casa.

Edson Martinho, presidente da Abracopel
“Se você tem uma voltagem em 220, por exemplo, ela acaba indo a 230 e 240 volts. Essa situação vai estressando os equipamentos que – ao longo tempo – e com a frequência das quedas podem vir a queimar esses componentes. Esse é o grande problema das quedas de energia, não as interrupções em si, mas sim quando a energia volta”, explica o profissional.
Ainda de acordo com Martinho, outros fatores também precisam ser considerados sobre o tema.
“Se você parar para pensar não só nos equipamentos de segurança, de maneira geral, você acaba levando uma falha e queimas de equipamentos que podem às vezes ser de sustentação à vida, segurança, dentre outros, argumenta.
Processo de privatização
A Agência Tatu entrou em contato com o Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, entidade que representa a categoria dos trabalhadores do setor de energia no estado, para entender qual o posicionamento da organização quanto à qualidade do serviço em razão do processo de privatização que ocorreu ao longo dos últimos anos. Em nota, a organização disse que essa queda na qualidade do serviço era esperada.
O Sindicato já havia alertado à população que a privatização de setores como água e energia causam piora na qualidade dos serviços, aumento de tarifa e demissões. Em todos os locais onde houve a privatização desses serviços isso ocorreu. A precarização dos serviços é outro fator que nesse caso explica o aumento da falta de energia. Empresas privadas reduzem o quadro de funcionários, contratam pessoal sem qualificação, porque querem pagar menos e lucrar com isso. A Equatorial Alagoas demitiu seu bem mais precioso: centenas de profissionais altamente capacitados, que receberam treinamento ao longo dos anos, com investimento público e que conheciam o sistema na palma da mão. Então o cálculo é lógico.
Ainda para o Sindicato, a perspectiva é que a qualidade do serviço piore nos próximos meses.
É preciso pensar nesses setores estratégicos como água e energia de forma social. Todos precisam ter acesso a esses serviços independentemente do poder aquisitivo. Semanalmente, vemos reclamações de queda de energia em vários bairros da capital e municípios do interior, reclamação de aumento de tarifa e erros nas contas de energia. Isso não é melhorar o sistema. Com o passar do tempo, a tendência é piorar ainda mais, pois os equipamentos vão ficando velhos e desgastados e a manutenção é sempre retardada, visando economizar, então o pior ainda está por vir.
Sem respostas
A reportagem da Agência Tatu entrou em contato com assessoria de comunicação da Equatorial Alagoas a fim de buscar um esclarecimento sobre o assunto. A Equatorial informou que iria analisar os dados para só então se manifestar, mas até a finalização desta matéria não houve retorno.
DADOS ABERTOS:
Série histórica fornecimento de energia Alagoas – 2009 – 2021