A médica alagoana Cláudia Andrade, de 27 anos, que estava morando em São Paulo, deixou a residência de ginecologia e obstetrícia para poder cuidar da família que está infectada com o novo coronavírus, em Maceió.
“Estou no último ano de residência de ginecologia e obstetrícia no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. A instituição é referência para Covid-19 na Zona Leste da cidade. Fui designada a ajudar no atendimento de pacientes com suspeita e confirmação de infecção pelo novo coronavírus. Estava há um mês nessa rotina quando soube que meu pai, que mora em Maceió com minha mãe e meu irmão, estava com sintomas iniciais da Covid-19. Não pensei duas vezes. Comprei uma passagem para casa.” disse a médica.
A médica disse ainda que a decisão não foi fácil, sabia do risco de ser infectada no trajeto. Mas mesmo assim decidiu voltar para Maceió tomando todos os cuidados. “Levei todos os meus equipamentos de proteção individual: macacão, máscaras, face shield, óculos. Quem me buscou no aeroporto foi meu noivo, mas não nos beijamos e nem nos abraçamos. Eu sentei no banco de trás do carro e usando máscara. Ele já tinha passado no mercado e feito compras para a minha família. Aliás, só nos vimos dessa vez e outro dia que ele deixou mais compras na garagem, mas não encostei nem na mão dele.”
Segundo Cláudia, a casa tem dois andares, seus pais e irmão ficaram isolados em um deles, cada um num cômodo. Ela ficou no andar de baixo. Além disso, para se prevenir ela tomava seis banhos por dia, limpava tudo que encostava na casa, só subia uma vez por dia para examiná-los e ia toda paramentada.
“Meu pai estava com uma saturação abaixo do ideal, mas não era de risco. Pedi para ele ir ao hospital, onde ele fez uma tomografia que mostrava que 30% do pulmão estava acometido. Conversei com o médico e fui acompanhando por telefone as recomendações. Não havia indicação de internação, então meu pai voltou para casa. Mais uma vez tive certeza que tomei a decisão correta, porque poderia cuidar dele de perto.”
“Fiquei lá oito dias. Quando retornei, eles ainda apresentavam sintomas, mas já tinham passado os dias críticos, que é do 5º ao 10º, quando tem mais risco de complicação. Voltei porque eles estavam bem, mas, se precisasse, tinha aberto mão da residência pela minha família. Deu muita angústia e ansiedade ver todos doentes, apesar de tentar não passar isso pra eles. A gente fazia ligação por vídeo e rezava todos juntos. O amor e a fé eram muito grandes. Mas eu me sentia sozinha também, é estranho não poder abraçar mesmo estando na mesma casa. Agora estão todos bem. E não tem previsão de quando vamos nos ver de novo. Não vou enfrentar outra vez o risco do avião. Se eu já tinha laços fortes com minha família, só nos aproximamos ainda mais. Hoje, faria tudo de novo. Era o meu papel. E foi muito bom ter a oportunidade de vê-los se recuperar. Em São Paulo tenho me sentido sozinha, porque atendo casos graves no hospital e volto para casa sem ninguém.”, contou Cláudia Andrade.
BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 21/05/2020: Alagoas tem 4.916 casos da Covid-19 e 262 óbitos