Ex-chefe da Receita Federal José Tostes falta a depoimento na Polícia Federal sobre uso da Abin para proteger filhos de Bolsonaro



O ex-secretário da Receita Federal, José Tostes, ausentou-se do depoimento agendado para esta segunda-feira na Polícia Federal (PF). Esta seria a segunda tentativa por parte das autoridades de obter esclarecimentos de Tostes, que já havia solicitado o adiamento da audiência na semana passada. Tostes está na mira dos investigadores como parte do inquérito que investiga o suposto uso da Agência Brasileira de Investigação (Abin) para proteger os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro de investigações diversas.

Com a falta de comparecimento do ex-secretário, a PF agora avalia quais medidas serão tomadas para garantir que o depoimento aconteça. Como investigado, Tostes possui o direito de permanecer em silêncio e de ter acesso aos autos do inquérito antes de prestar qualquer esclarecimento.

O foco do depoimento seria entender a participação de Tostes em um episódio de 2020, quando, em uma reunião registrada em áudio, Jair Bolsonaro teria sugerido que as advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) conversassem com ele e com o então chefe do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) a respeito do “caso das rachadinhas”, uma investigação envolvendo o desvio de salários de servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) pelo filho do ex-presidente.

Na gravação, Bolsonaro disse explicitamente: “É o caso de conversar com o chefe da Receita”. A declaração foi feita após as advogadas de Flávio Bolsonaro alegarem a existência de irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal, que acabou originando o inquérito contra o senador.

A reunião foi gravada por Alexandre Ramagem, então chefe da Abin, e a gravação foi descoberta pela PF após a apreensão dos dispositivos eletrônicos de Ramagem em janeiro deste ano. Os investigadores buscavam questionar Tostes se ele foi de fato procurado após essa reunião e se houve qualquer iniciativa para instaurar procedimentos administrativos contra os auditores, com o objetivo de anular a investigação e afastar alguns deles de seus cargos.

O áudio foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), há cerca de duas semanas, e passará por perícia por profissionais do Instituto Nacional de Criminalística (INC). O objetivo é transcrever na íntegra o conteúdo da reunião, que tem duração de uma hora e oito minutos, incluindo momentos onde há sobreposição de vozes, para garantir a clareza dos diálogos.

Essa série de eventos coloca mais uma vez em destaque as tentativas de interferência política em órgãos públicos e acrescenta uma camada de complexidade às investigações em curso sobre o ex-presidente e seus familiares. A expectativa agora recai sobre os próximos passos da PF para garantir o depoimento de José Tostes e o avanço das investigações.

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