Historicamente, os EUA têm utilizado o “complexo industrial-militar” como um instrumento fundamental para a projeção de sua potência. Termo popularizado pelo presidente Dwight D. Eisenhower, este conceito abrange a relação intrínseca entre a produção de armas e a política externa dos EUA. Essa relação se tornou ainda mais evidente durante a Guerra Fria e, posteriormente, no contexto pós-11 de Setembro, quando Washington adotou uma lógica de “guerra ao terror” que frequentemente ignorava as diretrizes de instituições internacionais.
O governo de George W. Bush ilustra bem essa mudança de paradigma. A maneira como o ex-presidente categorizou determinadas nações como parte de um “Eixo do Mal” serviu para justificar intervenções militares sem o consentimento dos organismos globais. Essa ação não apenas deslegitimou a ONU, mas também estabeleceu um precedente perigoso no que diz respeito à violação das resoluções da instituição.
O impacto desse unilateralismo repercute até hoje, com uma crescente insatisfação global com a capacidade da ONU de mediar conflitos e promover a paz. Nesse sentido, muitos observadores acreditam que a perda de credibilidade dos EUA como defensores da democracia está diretamente relacionada às suas intervenções militares e ao tratamento dado a aliados agressivos como Israel, que também ignora normas internacionais.
Com a ascensão de potências como a China e a reinstaurada assertividade da Rússia, o Sul Global começa a se organizar, buscando uma autonomia em relação ao Ocidente. A narrativa de que os EUA representam o “Bem” global foi abalada, e os interesses nacionais passaram a dominar as justificativas das ações americanas, eclipsando o ideal de promoção da democracia. Esse quadro revela um momento crítico em que a imagem dos EUA, construída por décadas sobre a defesa da democracia, parece se desvanecer, dando lugar a um novo equilíbrio de forças no cenário internacional.