EUA Intensificam Militarização na América Latina em Meio a Conflito com a China e Crise do Fentanil

A movimentação recente de tropas norte-americanas em direção ao México e à Venezuela, inicialmente justificada como uma ação de combate ao narcotráfico, traz à tona preocupações sobre uma possível escalada militar dos Estados Unidos na América Latina. Especialistas como a professora Flávia Loss, do Instituto Mauá de Tecnologia, argumentam que o discurso do governo americano não é novo, refletindo uma narrativa que remonta à década de 1970, mas agora com um foco específico no fentanil, uma droga sintética que tem repercutido em crises de saúde pública nos EUA.

Para Loss, as respostas da administração americana são superficiais e carecem de uma análise mais profunda que aborde não apenas o combate ao narcotráfico em si, mas as raízes e o consumo dessas substâncias. O cientista político Tiago Rodrigues, da Universidade Federal Fluminense, ecoa a preocupação de que as ações dos EUA se inscrevem em uma longa tradição de intervenções na região, muitas vezes com objetivos geopolíticos que vão além do simples enfrentamento do tráfico de drogas.

Essa militarização, conforme aponta Loss, é frequentemente utilizada como uma justificativa para ações que poderiam ser vistas como demonstrações de força. Enquanto as reações de países como México e Venezuela são firmes, com a presidente mexicana indicando uma postura de proteção da soberania nacional e Nicolás Maduro respondendo ironicamente aos anúncios norte-americanos, a situação levanta um alerta sobre uma corrida armamentista na região. A especialista destaca que essa pressão faz com que os países tenham que se militarizar mais, correndo o risco de comprometer direitos humanos em seu próprio solo.

Além da questão do narcotráfico, o contexto atual também se relaciona com a crescente influência da China na América Latina, levando os EUA a buscarem restabelecer uma hegemonia perdida. Rodrigues faz uma analogia histórica, comparando esse movimento à transição entre as potências britânicas e americanas no início do século XX. Ele observa que, neste cenário, os países latino-americanos estão, gradualmente, buscando um protagonismo maior.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, já expressou preocupações com o aumento da presença militar dos EUA na região, especialmente em situações como a do Paraguai, onde uma base antiterrorista foi instalada. As análises sugerem que uma oposição firme agora pode ser contraproducente, dadas as tensões econômicas causadas por medidas protecionistas dos EUA, como o aumento de tarifas.

Rodrigues adverte que o Brasil pode ser alvo de futuras práticas de minar sua influência, devendo ficar atento às possíveis classificações do Primeiro Comando da Capital (PCC) como grupo terrorista, o que poderia ampliar ainda mais a ingerência externa. Embora Loss não veja um confronto direto como iminente, o ambiente de tensão permanece palpável, sinalizando uma complexa rede de relações de poder que exige cautela e estratégia por parte dos países latino-americanos.

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