A pesquisa realizada pelos especialistas do Insper envolveu um minucioso cruzamento de informações entre o Cadastro Único e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, que coleta dados sobre renda e emprego. Os dados revelaram que, em média, o número de famílias consideradas pobres no Cadastro Único é 29% maior do que na PNAD Contínua, chegando a ultrapassar os 50% em regiões como Rio de Janeiro, Baixada Fluminense e entorno metropolitano de Cuiabá.
Apesar dessa disparidade, é importante ressaltar que a definição de pobreza utilizada nas comparações é a mesma adotada pelo Bolsa Família, que estabelece como critério famílias com renda de até R$ 218 por pessoa. Contudo, os especialistas do Insper alertam que a divergência de dados não implica necessariamente que essas famílias não estejam em situação de vulnerabilidade, uma vez que o conceito de pobreza pode variar de acordo com a perspectiva adotada.
Diante dessas constatações, o Insper apresentou o estudo ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), que solicitou apoio na análise da qualidade do cadastro. Uma das sugestões levantadas pela pesquisa é a revisão do critério de renda utilizado para classificar as famílias em situação de pobreza, propondo a adoção da renda média do último ano como parâmetro.
Apesar de possíveis discordâncias em relação às recomendações, os pesquisadores ressaltam a importância de considerar diferentes argumentos e valorizar as evidências dos dados na formulação de políticas públicas. O Cadastro Único é fundamental para identificar as famílias de baixa renda no Brasil e é utilizado para a concessão de diversos benefícios sociais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Com essa nova análise, o Insper espera que haja uma melhoria na focalização dos programas sociais, garantindo que atinjam efetivamente aqueles que mais necessitam de assistência. Laura Müller, uma das responsáveis pelo estudo, destacou a importância de investigar a fundo as distorções identificadas para assegurar que os programas sociais cumpram o seu propósito de beneficiar o público-alvo designado.