Especialistas alertam: erradicação da fome requer mudanças estruturais e limitações ao modelo agrícola que prioriza a produção de soja e carne



A Cúpula do G20, realizada recentemente no Rio de Janeiro, foi marcada pela proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Esta iniciativa ambiciosa já recebeu apoio de 82 países, além de diversas organizações internacionais e fundações, o que representa uma mobilização significativa em torno de um problema que aflige a humanidade: a fome. Durante sua fala de abertura, Lula destacou um dado alarmante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que aponta que cerca de 733 milhões de pessoas sofrem de subnutrição no mundo. O presidente enfatizou que a fome é resultado de decisões políticas que marginalizam grandes parcelas da população.

Entre os especialistas consultados, a necessidade de um modelo de desenvolvimento que vá além da pura eficiência produtiva foi um tema recorrente. O economista Renato Maluf, coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, argumentou que a solução para a fome não é simplesmente aumentar a produção de alimentos, mas sim garantir o acesso a uma alimentação saudável e adequada. Ele repudiou a visão economicista que considera a atividade econômica e a eficiência produtiva como panaceias para o problema da fome, defendendo modelos agroecológicos que valorizem a diversidade biológica e a agricultura familiar.

Marcelo Nery, diretor da FGV Social, acrescentou que, embora o Brasil tenha reduzido a extrema pobreza pela metade em 15 anos, a fome ainda é um desafio crescente, especialmente após o desmonte de programas de segurança alimentar durante o governo anterior. Para Nery, o retorno de iniciativas como o Bolsa Família é fundamental para mitigar a pobreza e a fome, indicando que ações integradas podem trazer resultados positivos em um curto espaço de tempo.

Além disso, as consequências da má alimentação, como a obesidade, também foram abordadas. Maluf observou que hoje, a obesidade é responsável por mais mortes do que a fome, especialmente entre os mais pobres, destacando que o acesso a alimentos saudáveis é frequentemente limitado pela mercantilização de produtos nocivos à saúde. A discussão gira em torno de um conceito mais amplo de segurança alimentar, que não deve se restringir apenas à quantidade de alimentos disponíveis, mas também à qualidade e ao acesso, sublinhando a complexa interseção entre saúde, economia e políticas públicas.

A proposta de Lula ressoa com a ideia de que a política alimentar deve ser repensada de forma a combater a desigualdade e a concentração de renda, garantindo que os alimentos sejam um direito acessível a todos e que sua produção respeite as diversidades e necessidades locais. A luta contra a fome e a pobreza exige um compromisso coletivo e um planejamento acessível a todos, promovendo um desenvolvimento sustentável e inclusivo.

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