Em entrevista ao GLOBO, o senador Renan Calheiros (AL), um dos principais caciques do MDB e aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a escolha do candidato do partido para as eleições presidenciais de 2026 será feita por meio de votação em convenção partidária. A declaração ocorre em um momento de crescente fortalecimento da ala de oposição ao governo dentro da legenda, especialmente após a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, aliado de Tarcísio de Freitas e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Renan, contudo, reforçou que o MDB sempre foi marcado por divergências internas e que o partido “não tem senhorio, não tem dono”, mesmo que isso envolva figuras de destaque como o prefeito paulista.
Ele afirmou que Nunes, embora tenha se tornado uma “estrela” do partido, corre o risco de “estar à beira do precipício”, devido à complexidade e aos desafios internos do MDB. “Em 2026, a posição do partido será decidida no voto, como sempre foi”, disse Renan, deixando claro que a escolha será democrática e não centralizada em um único nome.
Sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Renan foi categórico: “Ele não vai superar a inelegibilidade”. Segundo o senador, o povo brasileiro foi o responsável por tornar Bolsonaro inelegível, e sua falta de apoio entre os próprios aliados políticos é um obstáculo para qualquer tentativa de reversão dessa situação.
Em relação à possibilidade de um acordo com seu rival político em Alagoas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para uma candidatura dupla ao Senado, Renan descartou a ideia. “O Arthur vai precisar comer muito sal ainda para virar senador por Alagoas”, disse, ironizando que Lira logo sentirá a perda de poder, já que “a piada que ele costuma contar não será mais engraçada”.
Renan também fez críticas ao desempenho da esquerda nas eleições municipais, afirmando que os progressistas têm se desviado das prioridades do povo brasileiro ao focarem em questões identitárias. “Ser progressista no Brasil é garantir que as pessoas tenham comida, casa, saúde, emprego e dignidade”, afirmou, destacando a falha em avançar nessas áreas essenciais.
O senador se posicionou também sobre a reforma fiscal do governo, defendendo ajustes que não pesem para os mais pobres, e criticou a proposta de mudanças nas emendas aprovadas pelo Congresso, considerando-as insuficientes e contrárias aos princípios constitucionais de transparência e equidade.
Em relação ao atual cenário político, Renan se mostrou contra a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Para ele, tais ações são “terroristas” e não têm prescrição, comparando-as a crimes hediondos.
Finalmente, o senador fez duras críticas à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a qual presidiu a comissão mista de controle. Ele afirmou que a Abin está distante de ser uma verdadeira agência de inteligência, sendo, na sua avaliação, “pouco mais que um centro de arapongagem e bisbilhotismo político”. Renan cobrou uma reformulação da agência e maior estrutura para fiscalizar suas atividades. “A Constituição equivale esses crimes a crimes hediondos. A democracia continua sob ameaça. Não havia esse tipo de coisa antes de Bolsonaro. Não havia pedido de golpe, intervenção militar, fechamento do Supremo, Congresso Nacional.”