Para Eliana, essa situação despertou sentimentos conflitantes. Como autora de contos e romances que abordam mazelas históricas do período colonial e os seus efeitos na população negra, a penumbra lhe trouxe à tona o peso de estar em uma cidade construída em grande parte por escravizados.
Na tarde seguinte, já com a energia normalizada, a autora de “Água de barrela” e “Solitária” ainda permanecia com uma sensação incômoda. Ela afirmou que, devido ao tipo de material que escreve e pesquisa, sempre é difícil estar em Paraty sem imaginar o passado colonial. Eliana expressou que a escuridão e as velas na noite anterior a fizeram refletir sobre o cenário que ocorria na época e como isso continua presente nos dias de hoje.
Eliana participou da programação da Flip em anos anteriores e afirma que seu olhar sobre Paraty vem sendo “apurado” ao longo dos anos. Ela ressalta que o letramento muda o olhar para o espaço geográfico, e que seus sentimentos são compartilhados por outros autores negros. Apesar do desconforto em estar na cidade, ela vê com bons olhos a crescente participação de autores negros na Flip e acredita que é possível ressignificar esses espaços.
A discussão sobre as origens da cidade também tem ganhado destaque nos debates da Flip, especialmente desde que a festa começou a incluir uma maior presença de autores e autoras negras em sua programação. A presença de autores negros na Flup é vista como uma forma de ressignificar os espaços e vencer a dor do passado. Eliana acredita que é importante estar presente na cidade devido à importância do evento e do público interessado em conversar com os autores. Para ela, essa necessidade de participar da Flip e estar presente é mais poderosa que o sofrimento do passado.