Uma atividade tão comum vista diariamente nas ruas de Maceió carrega consigo uma dura realidade, quando é exercida para sustentar o vício de drogas. Seguir para morar nas ruas é uma das consequências dos usuários de entorpecentes para conseguir manter o vício e com isso buscam alternativas como guardar e lavar carros em vias públicas. O consumo de entorpecentes tem afetado diretamente milhares de pessoas independentes do sua posição social.
Em todo o Estado, algumas ações de prevenção e combate ao consumidor da droga são desenvolvidas para recuperar dependentes químicos, mas o principal problema encontrado atualmente dentro da implantação do programa Crack, É Possível Vencer encontra-se na a ausência de um alinhamento entre as áreas responsáveis por desenvolver as medidas, como coloca o secretário de Estado de Prevenção à Violência, Jardel Aderico.
“Acredito que o principal problema esteja na interlocução. Na forma como a saúde se comunica com a segurança, na forma como a segurança de comunica com a Seprev para que possa construir um ambiente de colaboração para que o serviço de um seja o complemento do outro, havendo assim uma maior interlocução das ações perante aos usuários de drogas”, disse Jardel.
Em frente ao prédio da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e do Quartel Geral da Polícia Militar é sempre comum a presença de moradores de ruas que consumem drogas. A situação é reconhecida pelo próprio secretário Alfredo Gaspar de Mendonça, que admite já ter comunicado aos órgãos de assistência social sobre o crescimento daquela população em situação de vulnerabilidade, que segundo ele seria composta por zumbis do crack.
Segundo Alfredo, a droga tomou conta da estrutura social das famílias e não atinge somente pessoas de baixa renda. Ele lembra que na época em que estava no Ministério Público Estadual (MPE) andou pelas ruas da cidade para combater o alto índice de mortes de moradores de ruas e se deparou com a situação dos menores de idade usando crack.
Ele se posiciona contrário à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em liberar o consumo de maconha para usuários. “A maconha continuará sendo uma porta de entrada. A quantidade de zumbis que temos em Alagoas e em todo país é absurda. Até a que gente chegue a debater a liberação, nós vamos ter uma tragédia social no mínimo mantida”, disse o secretário.
No combate ao consumo do crack, a Segurança Pública tem um convênio com o Ministério da Justiça através do programa Crack, é possível vencer. Apesar da implantação das ações, o secretário afirma que o projeto, no âmbito da pasta, encontra-se paralisado aguardando um curso de especialização oferecido pelo governo federal.
“Hoje se tem problemas com a maconha, com êxtase, com a cocaína e tem problemas com o crack, mas Alagoas se destacou por ter uma população em vulnerabilidade e o crack passou a droga a ser mais consumida. O crack gera uma violência grande e não tem política pública no país que o consiga vencer, até o presente momento”, completou Alfredo.
Ao comentar a aumento da população de rua em frente ao prédio, ele relatou os problemas que são originados diante da concentração das pessoas, que muitas vezes resultas em confusões e até em morte. “Esse clima de violência é por conta da exclusão que é muito grande. Isso aqui é exclusão social e todas as formas a segurança é cobrada”, assegurou ele.
O programa Crack, É Possível Vencer é uma iniciativa conjunta entre diversos Ministérios – Saúde, Justiça, Educação, Secretaria de Direitos Humanos, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Seprev dribla ausência de alinhamento para prestar ações aos usuários
Para garantir o atendimento aos usuários de crack, Jardel Aderico afirma que a Seprev tem buscando alternativas para construir um ambiente que possa retirá-los daquele local onde eles mantem o contato com o entorpecente, sem precisar ficar aguardando, necessariamente, que essa interlocução entre os outros órgãos municipais e estaduais ocorra.
Ele explica que o programa Crack, É Possível Vencer trata de uma série de equipamentos de serviços que foram ou serão implantados nas duas esferas administrativas de forma que possam dialogar com um único objetivo. De forma mais generalizada, o governo comemora os 20 mil atendimentos realizados a usuários de drogas em todo o estado entre 2010 e 2015, desde que o programa Rede Acolhe foi criado.
“Quando se fala de um problema complexo, requer soluções complexas. O combate ao uso de crack necessita da atuação de várias frentes, envolvendo políticas sociais do município e do estado, com ações de segurança, educação e serviços estratégicos que possa retirar esse dependente daquele ambiente”, comentou ele.
Jardel reforça que o programa foi projeto dentro dos moldes criados pelo Governo Federal, todavia sentiu-se necessidade de adaptação de acordo com a realidade de cada de estado e município. Segundo ele, mesmo enfrentando esse problema de alinhamento entre os órgãos integrantes, o programa conseguiu efetivar quase 70% do que foi pactuado.
Alagoas conseguiu apresentar uma resposta mais rápida diante das ações já implantadas, como o projeto chamado Rede Acolhe, que conta com 34 instituições espalhadas no estado. Essas instituições permitem ao dependente químico um período de internação de 6 a 9 meses de forma voluntária. O Estado liberou R$ 5 milhões em novembro, o que assegura a ampliação das ações de prevenção à violência decorrente do tráfico de drogas, até março de 2016.
Além desse serviço, o secretário mostra os Centros de Referências como um meio de dialogar com a comunidade, onde o objetivo é oferecer uma resposta mais imediata sobre o encaminhamento do dependente. Para integrar essas ações, a Seprev criou um comitê de prevenção que contará com a presenta das diversas secretarias estaduais para mapear os territórios considerados prioritários e aplicar ações.
“Sem dúvidas o projeto acolhe é a principal ferramenta que nós temos para dialogar com usuário. Contamos também o apoio da segurança que identificar as cenas de uso de crack e promove junto com a Seprev promove uma estratégia de aproximação para chegar até eles”.
A ampliação do projeto acolher possibilitou o atendimento de 3 mil dependentes químicos nas comunidades em todo o estado, além de mais 500 vagas asseguradas pelo governo federal. O custo varia entre R$ 1 mil a R$ 1,500 por dependente por mês.
Drogas lícitas como bebida são porta de entrada para o crack
Dos dependentes químicos atendidos nas comunidades acolhedoras, 2% iniciaram o uso de droga através do crack. A maioria dos usuários, 51% % iniciaram com drogas lícitas e 31% com a maconha. Esses dados são revelados a partir de uma pesquisa realizada pela Seprev com os usuários.
91% dos atendimentos são homens e iniciaram o uso de drogas por influência de algum amigo. Ao analisar os motivos que levaram ao consumo do entorpecente, 38% relatam que fizeram o uso por curiosidade, 6% por influência da família, 2% por conflito familiares, 3% por fatos negativos.
De acordo com a coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, as equipes lotadas nos consultórios que funcionam nas ruas já realizaram o atendimento a mais de 2 mil pessoas que estão situação de rua, principalmente nos bairros do Centro, Vergel do Lago, Benedito Bentes e na região da praia.
Tereza Tenório relata que através do programa Crack, É Possível Vencer, Maceió ganhou uma unidade de Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSAD) que realiza atendimentos durante 24 horas. Segundo ela, a procura por atendimento para acabar com a dependência é muito grande.
“Através de uma portaria do Ministério da Saúde, Maceió deveria ter cinco unidades de CASPAD. Nós estamos em processo de construção de mais duas unidades, uma no Benedito Bentes e outra no Santo Eduardo, além da instalação de duas unidades acolhedoras”, afirmou ela.
De forma mais generalizada, totaliza 20 mil atendimentos realizados a usuários de drogas em todo o estado entre 2010 e 2015, desde que o programa Acolhe foi criado.