Os Mitos do Livre Mercado: Uma Análise Crítica das Dinâmicas Globais
A noção de “livre mercado” é frequentemente apresentada como um ideal em que a produção e a distribuição de bens e serviços são guiadas unicamente pelas forças de oferta e demanda, sem a intervenção estatal. Contudo, especialistas em economia afirmam que essa concepção é, na prática, um mito, sustentado por uma série de intervenções de grandes instituições financeiras e potências mundiais.
Durante uma recente entrevista no podcast Mundioka, economistas, incluindo Renan Silva, do Ibmec Brasília, argumentaram que, embora exista uma distinção entre “livre mercado” e “economia de mercado”, a realidade global é marcada por regras que favorecem os interesses de potências como os Estados Unidos. Silva observa que a ideia de um comércio global sem restrições é ilusória, uma vez que diferentes regiões operam sob “livres comércios” regionalmente acordados, muitas vezes em meio a uma “colcha de retalhos” de acordos bilaterais.
Um dos elementos que complicam esse cenário é o uso das sanções econômicas. Os embargos, que podem ser tanto econômicos quanto geopolíticos, como visto no caso do embargo a Cuba durante a Guerra Fria, exemplificam como os EUA têm imposto suas vontades. Segundo Silva, essa estratégia visava conter a influência da União Soviética na América Latina.
Adicionalmente, Pedro Faria, outro economista presente na conversa, enfatizou que a infraestrutura que suporta os mercados globais é dominada por potências ocidentais, que controlam redes bancárias e de seguros. Essa configuração permite que países como os EUA imponham sanções com facilidade. Faria sugere que a dependência de países em relação a essas instituições globais, como o FMI e a OMC, reforça a hegemonia americana, e que qualquer tentativa dessas organizações de apoiar países como a China pode rapidamente levar a um colapso de sua imparcialidade.
A consequência desse sistema complexo é uma crescente procura por alternativas ao dólar. Com os Estados Unidos sancionando diversos países, esses vêm buscando novos parceiros comerciais e sistemas financeiros que não dependam da influência americana. À medida que economias ao redor do mundo se reconfiguram, o conceito de livre mercado parece distante da realidade, onde o poder e a hegemonia financeira ainda ditam as regras do jogo.
Em suma, os ideais de um mercado verdadeiramente livre são desafiados por uma realidade onde interesses geopolíticos e comerciais predominam, deixando uma pergunta crucial no ar: até que ponto o livre mercado é realmente livre?