O anúncio foi formalizado por Jamieson Greer, representante de Comércio dos Estados Unidos, no documento intitulado “Investigação da Seção 301 sobre Práticas Comerciais Desleais no Brasil”. Embora o texto não mencione explicitamente o Pix, faz referência a “serviços de pagamento eletrônico do governo”, sugerindo uma preocupação com a forma como o sistema brasileiro foi estruturado.
A investigação levanta questionamentos sobre o papel do Banco Central do Brasil, que, supostamente, teria favorecido o Pix em detrimento do WhatsApp Pay, que pertence à Meta, empresa de Mark Zuckerberg. A grande ironia desse cenário é que, quando o WhatsApp tentou lançar sua funcionalidade de pagamentos no Brasil em junho de 2020, o Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) rapidamente intervieram, decidindo suspender a função para evitar riscos e garantir que o funcionamento do sistema de pagamentos brasileiro não fosse comprometido.
A economista Cristina Helena Mello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, destacou que essa intervenção foi, na verdade, uma medida prudente. Ela argumenta que o WhatsApp estava a operar fora do sistema financeiro legal, o que poderia dificultar a supervisão necessária e potencialmente ferir regulamentações brasileiras.
Desde seu lançamento em novembro de 2020, o Pix já se consolidou como uma ferramenta essencial para as transações financeiras no Brasil, movimentando trilhões de reais e oferecendo inclusão financeira para diversas camadas da sociedade. Seu sucesso tem incomodado não apenas empresas americanas, mas também o governo dos EUA, especialmente à medida que o sistema começa a ser aceito em transações internacionais em países como Paraguai e Panamá. A economista Mello enfatiza que isso representa uma ameaça ao desejo dos EUA de manter o controle sobre sua moeda, o dólar.
Outro ponto de preocupação para o mercado americano é a introdução do “Pix Parcelado”, que permitirá a usuários brasileiros parcelar transações como um cartão de crédito, algo previsto para começar a funcionar em setembro de 2025. Essa nova funcionalidade poderia intensificar a competição com operadoras de cartão de crédito, levando a um cenário mais dinâmico.
Apesar das críticas, Mello defende o Pix como um sistema de pagamento eficiente e inclusivo, capaz de atender não apenas às classes mais favorecidas, mas também aos brasileiros de baixa renda, como pequenos comerciantes, pedreiros e até mesmo pessoas em situação de rua. Para ela, o Pix reflete o compromisso do Brasil em oferecer soluções inovadoras que atendam a uma necessidade crescente de inclusão financeira, beneficiando a sociedade como um todo.