Em valores percentuais, os trabalhadores que atuam por aplicativos passaram de 1,5% do total de 85,6 milhões de ocupados em 2022 para 1,9% de 88,5 milhões em 2024. Esses dados são parte do módulo sobre trabalho por plataformas digitais, coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O analista Gustavo Fontes, responsável pela pesquisa, sugere que esse crescimento está relacionado tanto ao aumento da renda proveniente dessa forma de trabalho quanto à flexibilidade que estes empregos proporcionam. A liberdade para escolher horários, dias e locais de trabalho se mostra atrativa para muitos.
O levantamento revelou que a maioria dos trabalhadores por aplicativo está concentrada em quatro categorias principais. Os aplicativos de transporte particular respondem por 53,1% dessas atividades, seguidos por serviços de entrega (29,3%), aplicativos de prestação de serviços gerais (17,8%) e táxis (13,8%). Aqui, é importante mencionar que a categoria de serviços profissionais, que englobam atividades como design e telemedicina, está presente, refletindo a diversidade de serviços disponíveis na economia digital.
Entretanto, a pesquisa também trouxe à tona preocupações sobre a informalidade no setor. Enquanto 44,3% da população ocupada no Brasil é considerada informal, essa taxa sobem para alarmantes 71,1% entre os trabalhadores plataformas digitais. A grande maioria, 86,1%, trabalha por conta própria, o que traz à luz questões de segurança e direitos trabalhistas.
O perfil do trabalhador “plataformizado” também merece destaque: 83,9% são homens, o que revela uma disparidade significativa em comparação com a população ocupada em geral, onde a proporção de homens é de 58,8%. A predominância masculina é atribuída, em grande parte, à natureza das ocupações mais comuns, que envolvem transporte e entrega, áreas em que a presença masculina é mais acentuada.
Em termos de faixa etária, a pesquisa indicou que a maior parte dos trabalhadores por aplicativo, 47,3%, tem entre 25 e 39 anos, enquanto 36,2% estão na faixa de 40 a 59 anos. A escolaridade dos trabalhadores também foi investigada, revelando que 59,3% têm ensino médio completo e superior incompleto.
Regionalmente, mais da metade dos trabalhadores por aplicativo, 53,7%, reside na região Sudeste do Brasil, que é a única área onde a participação desse grupo na população ocupada supera a média nacional. O IBGE ressaltou que a coleta de dados foi feita no terceiro trimestre de 2024 como parte de uma colaboração com a Universidade Estadual de Campinas e o Ministério Público do Trabalho.
Por fim, o debate sobre direitos trabalhistas nesse setor está em evidência, com um processo no Supremo Tribunal Federal que discute o vínculo empregatício entre motoristas e plataformas digitais. Esse é um tema que ganhou bastante relevância, já que trabalhadores alegam precarização de suas condições, enquanto as empresas defendem a inexistência de vínculos trabalhistas formais. A expectativa é que esse assunto seja deliberado nos próximos meses, trazendo possíveis implicações significativas para o futuro do trabalho mediado por aplicativos no Brasil.