Apesar dessa ligeira queda, o mercado financeiro permanece em estado de alerta quanto à situação fiscal interna e à dinâmica inflacionária, especialmente com a divulgação do IPCA-15 acima do esperado. O dólar reduziu o ritmo de queda nas últimas duas horas de negociação, afastando-se da mínima do dia de R$ 5,6195 registrada no início da tarde. O alívio na aversão ao risco veio após informações de que a equipe econômica do governo admite dificuldades em arcar com um aperto de R$ 25 bilhões no Orçamento de 2025 sem compensações pela desoneração da folha de pagamentos.
Internacionalmente, o índice DXY, que mede o comportamento do dólar frente a seis moedas fortes, oscilou entre estabilidade e leve queda, finalizando a tarde abaixo dos 104,400 pontos. A desvalorização do iene japonês foi um fator que pode ter contribuído para a recuperação do real, após perdas recentes provocadas pelo fortalecimento da moeda japonesa. O cenário desfavorável para o real esteve parcialmente ligado ao desmonte de operações de “carry trade” envolvendo moedas de países com juros elevados.
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust, classifica a leve valorização do real como um “ajuste técnico”, consequência da redução de estresse nos mercados de Nova York após o crescimento do PIB americano superar expectativas, e do recuo do iene. Contudo, Velho observa que a taxa de câmbio ainda demonstra “rigidez” na faixa de R$ 5,60, influenciada pela conjuntura fiscal.
O resultado do PIB dos EUA revelou um crescimento anualizado de 2,8% no segundo trimestre, superando as expectativas que variavam entre 1% e 2,5%. Este desempenho representa uma aceleração em relação ao primeiro trimestre, quando o crescimento foi de 1,4%. Por outro lado, o índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida pelo Federal Reserve, mostrou desaceleração.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, destaca que, apesar do PIB robusto, o mercado continua projetando cortes de juros nos EUA a partir de setembro. A divulgação iminente do PCE de junho poderá confirmar a continuidade da desinflação.
No Brasil, o IPCA-15 desacelerou de 0,39% em junho para 0,30% em julho, mas ainda ficou acima da mediana das previsões (0,23%). Economistas consultados destacam que, por enquanto, a dinâmica inflacionária não altera a expectativa de manutenção da taxa Selic em 10,50%, embora a recente depreciação do real possa impactar as expectativas futuras.
Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, ressalta que o resultado do IPCA-15 foi influenciado por um aumento expressivo nos preços das passagens aéreas. Além disso, medidas de tendência da inflação também apontaram alta acima do esperado, indicando uma deterioração no cenário inflacionário corrente.
Esses movimentos e ajustes refletem a complexidade dos fatores internos e externos que afetam o mercado de câmbio, demandando atenção constante dos analistas e investidores.