A divergência em relação à data está associada a uma tentativa dos militares de se afastarem do Dia da Mentira, pois tradicionalmente, em vários países, incluindo o Brasil, o 1º de abril é conhecido como o dia das brincadeiras e pegadinhas. Segundo a professora Cristina Scheibe Wolff, da UFSC, a escolha pelo dia 31 de março é uma estratégia dos militares para evitar a associação do golpe com o simbolismo da mentira.
Para alguns historiadores, as movimentações que antecederam o golpe começaram na madrugada do dia 31 de março, embora, durante todo o dia, apenas boatos circulassem sobre um possível golpe. Foi somente no dia seguinte que o golpe se concretizou com a marcha do general Mourão Filho e suas tropas em direção ao Rio de Janeiro para depor o governo.
O professor Pedro Ernesto, da Ufes, destaca que os militares tentam utilizar o dia 31 de março para tentar limpar a imagem do golpe e dar uma nova roupagem a um evento que não teve respaldo da população brasileira. Já o dia 1º de abril é visto como uma resposta dos opositores ao golpe, associado ao dia da mentira e à farsa da intervenção militar.
Independentemente da data precisa do golpe, é importante lembrar esse episódio da história do Brasil como uma forma de preservar a democracia e evitar que tentativas autoritárias voltem a se repetir. O debate em torno da disputa da memória do golpe de 1964 continua atual e relevante para a sociedade brasileira, que busca compreender e superar os traumas deixados por esse período sombrio. Lembrar para não esquecer e não repetir é o lema que ecoa quando se discute o legado do golpe militar no Brasil.