Os Crimes de Maio estão intrinsecamente ligados a uma série de confrontos violentos entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e as forças de segurança paulista, que ocorreram entre 12 e 21 de maio. A maioria das vítimas eram civis; um estudo apontou que somente 59 entre os 564 mortos eram agentes de segurança. As condições em que a maior parte dos assassinatos ocorreu sugerem a execução sumária, com indícios de envolvimento de policiais em várias dessas mortes. As disparidades nas estatísticas — a cada policial morto, 8,6 civis foram assassinados — levantam sérias questões sobre a ética e a responsabilidade dos agentes do Estado.
Débora Maria da Silva, mãe de uma das vítimas e fundadora do movimento Mães de Maio, expressou a urgência de se buscar justiça: “Precisamos, como população organizada, colocar o Estado brasileiro no banco dos réus”, afirmou. As vozes de mães e familiares de vítimas clamam por uma justiça que ainda não se efetivou, após quase duas décadas de espera. “Precisamos remover as vendas da Justiça para que ela possa nos enxergar”, complementou Débora, ressaltando a necessidade de escuta e reparação por parte do Estado.
A escritora e coordenadora da Iniciativa Negra, Juliana Borges, acrescentou que a falta de responsabilização expõe o racismo estrutural do sistema de Justiça brasileiro. Segundo ela, a impunidade perpetua um ciclo de violência que desumaniza as vidas negras e periféricas, reduzindo-as a meros números em estatísticas. O Tribunal Popular, segundo Borges, funcionará como um espaço de denúncia e memória, sem o intuito de substituir o Judiciário, mas de desafiá-lo a agir de forma mais justa e representativa.
As atividades em memória aos Crimes de Maio incluem um seminário internacional focado na violência de Estado, além do projeto EnfrentAção, que busca apoiar mães e familiares de vítimas por meio de escuta qualificada e acesso à justiça. Outro ato público está programado para o dia 13 de maio em Santos, promovendo resistência e memória ativa.
Em suma, o Tribunal Popular é uma tentativa legítima de trazer para o centro do debate social e político as feridas abertas pela violência de Estado, ressaltando a necessidade de um reconhecimento e reparação que ainda parecem distantes. Com o olhar voltado para o futuro, as vozes que clamam por justiça continuam a lutar contra o esquecimento.