DIREITOS HUMANOS – Observatório cria plataforma para preservar comunidades indígenas isoladas, garantindo sua proteção e defesa de seus direitos.



No dia 15 de junho deste ano, Bruno Pereira, líder indígena e um dos mais dedicados indigenistas já conhecidos pelo também líder indígena Beto Marubo, completaria 42 anos. Entretanto, Pereira foi assassinado juntamente com o jornalista britânico Dom Phillips na Amazônia, em junho do ano passado. Para honrar sua memória, o Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) lançou uma plataforma de monitoramento chamada Mopi, que visa acompanhar os povos em isolamento voluntário que habitam a Amazônia brasileira.

A ferramenta ganhou esse nome em homenagem à contribuição de Bruno Pereira, pois “Mopi” significa “fazer ferroar” no idioma zo’é. A expressão tem um duplo sentido, pois representa tanto a oferta de medicina aos aliados quanto veneno aos inimigos.

Essa plataforma é particularmente importante para os indigenistas da região da Terra Indígena do Vale do Javari, que abriga a maior quantidade de indígenas em isolamento voluntário do mundo. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), são 19 povos vivendo nessa condição na região, incluindo os mayuruna/matsés, os matis, os kulina pano, os kanamari e os tsohom-dyapa.

O Opi, fundado por Bruno Pereira em 2020, destaca que atualmente há 28 registros de povos indígenas isolados confirmados pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), além de 26 referências em estudo e 60 registros de informação. Entretanto, ressalta-se que a lista oficial de registros não passou por uma revisão sistemática durante a gestão do governo Bolsonaro, o que a torna desatualizada.

Bruno Pereira foi um dos idealizadores do projeto e fez parte da equipe técnica desde seu início. A iniciativa conta com a parceria da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e da Operação Amazônia Nativa (Opan).

A plataforma Mopi reúne informações de bancos de dados públicos e de levantamentos de campo realizados pelos membros do observatório. Seu principal objetivo é fornecer informações sobre o território ocupado pelos indígenas em isolamento voluntário, suas condições de saúde e os diversos fatores que representam ameaças a eles, como empreendimentos e outras atividades humanas.

O Mopi é uma plataforma geoespacial que abrange os 114 povos isolados reconhecidos pelo Estado brasileiro, incluindo um grupo identificado na região do Mamoriá, no sul do Amazonas, em 2021, porém ainda sem reconhecimento oficial. Para proteger essas comunidades, as localizações dos registros são mostradas com coordenadas deslocadas propositalmente, a fim de evitar a identificação precisa de seus territórios e, consequentemente, protegê-los de possíveis ataques.

Assim, a plataforma Mopi surge como uma importante ferramenta de monitoramento e proteção dos povos indígenas em isolamento voluntário na Amazônia brasileira, mantendo viva a memória e a luta de Bruno Pereira, um indigenista dedicado que trabalhou incansavelmente em prol da preservação dessas comunidades.

Jornal Rede Repórter - Click e confira!


Botão Voltar ao topo