DIREITOS HUMANOS – Memorial da Resistência discute papel das mulheres na resistência à ditadura militar e luta feminista na imprensa dos anos 70


No último sábado (3), o Memorial da Resistência, situado na capital paulista, sediou uma rodada de conversas com mulheres que desafiaram a repressão durante o período da ditadura militar no Brasil. Essas mulheres se destacaram ao desafiar os papéis de gênero impostos e condenar o autoritarismo instalado no país.

Uma dessas mulheres é Lia Katz, que nos anos 60 era uma militante pela democracia e mais tarde se associou ao movimento feminista em São Paulo. Em 1975, o cenário para esses movimentos começou a parecer mais propício, com a realização da primeira Conferência Mundial da Mulher em comemoração ao Ano Internacional da Mulher. Nesse contexto, jornais feministas como Nós Mulheres, Mulherio e Brasil Mulher foram destaques na abordagem de questões de igualdade de gênero, desenvolvimento e paz.

Lia voltou ao Brasil em 1975 depois de cinco anos vivendo no exílio na França e logo após o nascimento de sua filha. Seu período fora do país foi marcado por uma constante luta para levantar fundos suficientes para se manter, realizando trabalhos temporários e colaborando com intelectuais brasileiros.

A experiência de exílio permitiu a ela analisar criticamente o que acontecia no Brasil durante a luta armada contra a ditadura militar. Apesar das dificuldades, ela retornou ao Brasil com uma perspectiva mais clara da situação no país.

A pressão da repressão fez com que ela deixasse o Brasil aos 17 anos, quando a organização clandestina na qual participava foi descoberta. Após esse episódio, Lia se tornou uma escritora de livros infantis e começou a frequentar grupos feministas.

Nos jornais feministas, elas desempenharam um papel ativo na redação, selecionando pautas que refletiam a realidade das mulheres trabalhadoras e das lutas por direitos, como o acesso a creches. A participação de mulheres negras e lésbicas nas discussões era limitada, algo que mudaria caso essas publicações fossem realizadas nos dias de hoje.

A censura sobre o conteúdo dos jornais não era tão explícita quanto nos grandes meios de comunicação, segundo Lia. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, essas mulheres conseguiram manter seus jornais em circulação, contando até com o patrocínio da cantora Elis Regina.

A história de mulheres como Lia Katz nos oferece um vislumbre do papel vital que elas desempenharam na resistência à ditadura militar no Brasil, desafiando não apenas o autoritarismo, mas também os papéis de gênero impostos pela sociedade da época. A luta dessas mulheres reverbera até os dias de hoje, inspirando futuras gerações a desafiar a opressão e a buscar a igualdade de gênero.

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