DIREITOS HUMANOS – Há 50 anos, ditadura militar assassina estudante de Direito em Recife, cujo corpo foi enviado para a família em Minas Gerais.


No dia de hoje, faz exatos 50 anos desde que a ditadura militar executou José Carlos da Mata Machado, conhecido como Zé Carlos, um jovem estudante de Direito que lutava ativamente contra o regime autoritário. Torturado e assassinado em Recife, seu corpo foi enviado à família em Minas Gerais após a denúncia e a repercussão do caso. Zé Carlos foi uma das poucas vítimas da ditadura que puderam receber um enterro digno pelas mãos de seus familiares.

De acordo com Bernardo Mata Machado, irmão de Zé Carlos, esse período foi o mais terrível de todos. Em uma entrevista à Agência Brasil, ele relembrou a coragem e os princípios fundamentais que seu irmão defendia: liberdade e igualdade. Para Bernardo, a luta de Zé Carlos era contra a ditadura militar e por uma sociedade mais justa, onde houvesse menos exploração.

Zé Carlos era militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) e já havia sido preso durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968. Passou oito meses nas celas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em Belo Horizonte. Ele chegou a ocupar a vice-presidência da UNE e foi presidente do Centro Acadêmico do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

No entanto, a trajetória de Zé Carlos foi brutalmente interrompida quando ele foi torturado e morto no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) em Recife, em 28 de outubro de 1973. Seu corpo inicialmente foi enterrado lá, mas graças aos esforços de sua família e da advogada Mércia Albuquerque Ferreira, foi exumado e levado para Belo Horizonte.

O pai de Zé Carlos, Edgar Godoy da Mata Machado, era um deputado federal cassado na ditadura e senador na década de 1990. Segundo relatos de Mércia, os militares chegaram a proibir que o caixão fosse aberto, evidenciando a brutalidade com que o corpo de Zé Carlos havia sido tratado. De acordo com as descrições da advogada, o corpo estava escalpelado e sem os dentes, uma tentativa de esconder sua identidade.

Na época, a família soube da morte de Zé Carlos através de uma nota oficial veiculada na televisão. Na versão oficial da ditadura militar, publicada nos jornais da época, a morte teria sido resultado de um tiroteio entre colegas de militância. No entanto, depoimentos de outros presos políticos confirmaram que Zé Carlos foi colocado em uma cela à beira da morte e proferiu suas últimas palavras antes de falecer.

Após o fim do regime militar, a ameaça à democracia no Brasil não desapareceu. Especialistas apontam que as tentativas de golpe atualmente têm se dado de forma mais sutil, através da manipulação de instituições como a Justiça. Essas ameaças evidenciam a importância de defendermos a democracia e a participação política de todos os cidadãos.

A história de Zé Carlos foi documentada em um livro do jornalista Samarone Lima, que inspirou o filme “Zé”, dirigido por Rafael Conde. O longa-metragem retrata os últimos anos da vida de Zé Carlos e será exibido em Belo Horizonte como parte da Semana Zé, uma iniciativa para lembrar os 50 anos de sua morte.

O caso de Zé Carlos é apenas um exemplo das inúmeras injustiças cometidas durante a ditadura militar no Brasil. É importante que essas histórias sejam contadas e relembradas, para que nunca nos esqueçamos dos horrores do passado e para que possamos construir um futuro baseado na liberdade e na igualdade.

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