De acordo com Bernardo Mata Machado, irmão de Zé Carlos, esse período foi o mais terrível de todos. Em uma entrevista à Agência Brasil, ele relembrou a coragem e os princípios fundamentais que seu irmão defendia: liberdade e igualdade. Para Bernardo, a luta de Zé Carlos era contra a ditadura militar e por uma sociedade mais justa, onde houvesse menos exploração.
Zé Carlos era militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) e já havia sido preso durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968. Passou oito meses nas celas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em Belo Horizonte. Ele chegou a ocupar a vice-presidência da UNE e foi presidente do Centro Acadêmico do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No entanto, a trajetória de Zé Carlos foi brutalmente interrompida quando ele foi torturado e morto no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) em Recife, em 28 de outubro de 1973. Seu corpo inicialmente foi enterrado lá, mas graças aos esforços de sua família e da advogada Mércia Albuquerque Ferreira, foi exumado e levado para Belo Horizonte.
O pai de Zé Carlos, Edgar Godoy da Mata Machado, era um deputado federal cassado na ditadura e senador na década de 1990. Segundo relatos de Mércia, os militares chegaram a proibir que o caixão fosse aberto, evidenciando a brutalidade com que o corpo de Zé Carlos havia sido tratado. De acordo com as descrições da advogada, o corpo estava escalpelado e sem os dentes, uma tentativa de esconder sua identidade.
Na época, a família soube da morte de Zé Carlos através de uma nota oficial veiculada na televisão. Na versão oficial da ditadura militar, publicada nos jornais da época, a morte teria sido resultado de um tiroteio entre colegas de militância. No entanto, depoimentos de outros presos políticos confirmaram que Zé Carlos foi colocado em uma cela à beira da morte e proferiu suas últimas palavras antes de falecer.
Após o fim do regime militar, a ameaça à democracia no Brasil não desapareceu. Especialistas apontam que as tentativas de golpe atualmente têm se dado de forma mais sutil, através da manipulação de instituições como a Justiça. Essas ameaças evidenciam a importância de defendermos a democracia e a participação política de todos os cidadãos.
A história de Zé Carlos foi documentada em um livro do jornalista Samarone Lima, que inspirou o filme “Zé”, dirigido por Rafael Conde. O longa-metragem retrata os últimos anos da vida de Zé Carlos e será exibido em Belo Horizonte como parte da Semana Zé, uma iniciativa para lembrar os 50 anos de sua morte.
O caso de Zé Carlos é apenas um exemplo das inúmeras injustiças cometidas durante a ditadura militar no Brasil. É importante que essas histórias sejam contadas e relembradas, para que nunca nos esqueçamos dos horrores do passado e para que possamos construir um futuro baseado na liberdade e na igualdade.