DIREITOS HUMANOS – Empresas despreparadas para inclusão de pessoas com deficiência e neurodivergência, aponta pesquisa da ONU e instituições parceiras.



Uma pesquisa recente intitulada “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência”, conduzida pela Pacto Global, Organização das Nações Unidas (ONU), Talento Incluir, Instituto Locomotiva e iO Diversidade, revela que a grande maioria dos trabalhadores com deficiência ou neurodivergência acredita que as empresas não estão preparadas para recebê-los. Segundo o estudo, oito em cada dez entrevistados acreditam que as organizações não estão adequadamente estruturadas para incluir e acolher profissionais com deficiência em seu quadro funcional.

Ao todo, 1.230 pessoas neurodivergentes ou com deficiência participaram do levantamento realizado entre outubro e novembro de 2024. Uma das constatações da pesquisa foi o fato de que 71% dos entrevistados preferem trabalhar em um modelo remoto ou híbrido, que mescla expedientes presenciais e remotos. Essa preferência pela modalidade de trabalho remoto se deve, em parte, à falta de estrutura adequada nos locais de trabalho tradicionais.

Um caso relatado nas redes sociais ilustra a dificuldade enfrentada por muitas pessoas com deficiência no ambiente de trabalho. Um usuário cadeirante foi selecionado para uma vaga de emprego, no entanto, foi dispensado logo em seguida porque sua cadeira de rodas não passava pelos batentes da porta do banheiro. Esse tipo de situação evidencia a falta de acessibilidade e adaptação dos ambientes corporativos para receberem profissionais com deficiência.

Segundo a pesquisa, um terço dos entrevistados afirmou que o ambiente de trabalho não está devidamente adaptado às suas necessidades. Além disso, quase todos os participantes declararam se apresentar como pessoas com deficiência ou neurodivergência durante processos seletivos. Isso mostra que ainda existe um certo receio ou desconforto em relação à declaração de deficiência, seja por medo de discriminação ou por falta de reconhecimento de suas condições de saúde.

Diante desse cenário, a diretora Lia Calder, da companhia 4CO, especializada em diversidade e inclusão, destaca que o Brasil ainda está distante de garantir a inclusão plena de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Apesar das leis existentes desde 1991 e do acordo da ONU em 2008, as empresas brasileiras ainda enfrentam desafios na implementação de políticas e práticas inclusivas.

A falta de comprometimento das organizações em relação ao desenvolvimento profissional de pessoas com deficiência é evidenciada pela concentração desses profissionais em cargos de base e pela ausência de programas efetivos de inclusão e acessibilidade. A naturalização da falta de acessibilidade e da exclusão desses profissionais nos ambientes corporativos é um problema que precisa ser enfrentado e superado, conforme ressalta Lia Calder.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também apontam para a desigualdade enfrentada pelas pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A pesquisa revela que a porcentagem de pessoas com deficiência empregadas é significativamente menor do que a de pessoas sem deficiência, e que a maioria dos profissionais com deficiência trabalha informalmente, com rendimentos inferiores à média nacional.

Diante desse panorama, é fundamental que as empresas adotem medidas efetivas para promover a inclusão e a acessibilidade no ambiente de trabalho, garantindo oportunidades equitativas para todos os profissionais, independentemente de suas condições de saúde ou neurodivergências. A criação de políticas inclusivas e o respeito à diversidade são essenciais para construir um ambiente de trabalho mais justo, acolhedor e produtivo para todos.

Jornal Rede Repórter - Click e confira!


Botão Voltar ao topo