Desafios e Direitos dos Camelôs no Rio de Janeiro
No coração da cidade do Rio de Janeiro, camelôs enfrentam condições de trabalho precárias que vão muito além do ato de vender produtos nas ruas. Expostos ao forte calor, muitos passam horas em pé, muitas vezes sem acesso a banheiros ou a uma alimentação adequada. Essas circunstâncias não apenas prejudicam a saúde física, mas também geram um desgaste emocional significativo. As consequências desse cotidiano exaustivo têm levado à necessidade urgente de ações que visem melhorar a situação desses trabalhadores.
Em resposta a esse cenário, duas instituições se uniram para implementar um projeto inovador: o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fundação Oswaldo Cruz (Cesteh-Fiocruz) e o Movimento Unido dos Camelôs (Muca) lançaram a iniciativa voltada para a pesquisa e formação em saúde do trabalhador camelô. O projeto tem como foco investigar as principais doenças e agravos relacionados a essa atividade, com a participação ativa dos próprios camelôs, que atuarão como bolsistas e multiplicadores do conhecimento.
Com um total de 100 trabalhadores selecionados, a iniciativa oferecerá uma série de encontros educativos onde os participantes irão aprender sobre seus direitos, os serviços disponíveis na cidade e como cuidar de sua saúde. A coordenadora do Cesteh, Rita Mattos, enfatiza a importância de conscientizar esses profissionais sobre os seus direitos relacionados ao trabalho, como a possibilidade de receber compensações em casos de acidentes.
Esse projeto é esperado com ansiedade pelos camelôs, que aguardam a chance de obter dados que os ajudem a lutar por políticas públicas que atendam suas necessidades. Maria de Lourdes do Carmo, líder do Muca, afirma que tal iniciativa é um passo importante para garantir que os trabalhadores das ruas sejam reconhecidos e respeitados por sua contribuição à economia local. "Este é o início de um movimento para reivindicar a saúde de pessoas invisíveis", diz.
Além das questões relacionadas ao reconhecimento e à formação, os desafios enfrentados no dia a dia são numerosos. Muitos camelôs relatam condições de saúde deterioradas, especialmente aqueles que permanecem sob o sol inclemente sem acesso a instalações sanitárias. Problemas como infecções urinárias e doenças dermatológicas são comuns, exacerbados pela falta de descanso e pela necessidade constante de carregar mercadorias pesadas.
Na fala de Daílton Fontes, conhecido como Dadá Corredor, vemos o drama pessoal refletido em sua trajetória. Com um passado como vendedor de picolés e bebidas, ele reconhece que sua saúde foi drasticamente afetada por suas escolhas alimentares, muitas vezes sacrificadas em nome do trabalho. "Para cuidar dos meus filhos, acabava vivendo de biscoitos e refrescos", confessa, ressaltando a falta de opção que caracteriza a vida do trabalhador informal.
Diante dessa realidade, fica claro que a informalidade não é uma escolha, mas sim uma consequência de um sistema que não oferece alternativas. A esperança está na formação e na conscientização, com o objetivo de melhorar as condições de vida e trabalho dos camelôs. O futuro parece promissor, especialmente com novos sonhos, como a participação em maratonas, refletindo a determinação e a garra desses trabalhadores que, apesar das dificuldades, buscam por melhores dias.