De acordo com o Instituto Vladimir Herzog, responsável por contar a história da Vala de Perus, as pessoas ali enterradas foram consideradas indigentes, porém, a maioria possuía ficha com nome e filiação. Quando a vala foi acessada, foram encontrados 1.049 sacos contendo ossadas humanas. Com o intuito de divulgar essa história, o instituto publicou o livro “Vala de Perus: um crime não encerrado da ditadura militar”, que pode ser baixado gratuitamente.
Até o ano de 2020, apenas cinco ossadas haviam sido identificadas. Segundo Carla Osmo, coordenadora do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os restos mortais das vítimas ficaram armazenados inadequadamente por anos, dificultando o trabalho de reconhecimento. Além disso, durante o governo de Jair Bolsonaro, o grupo de pesquisadores enfrentou diversos impedimentos para identificar as vítimas.
A atividade de identificação é conduzida pelo governo federal e regulada por um processo judicial movido pelo Ministério Público Federal. O CAAF-Unifesp, criado em 2014, é uma das instituições responsáveis por esse trabalho desde 2018. No período em que pôde atuar, a equipe coletou amostras de DNA que foram enviadas a especialistas na Holanda para verificar se eram compatíveis com familiares das vítimas.
Agora, os pesquisadores aguardam um novo acordo do governo para dar continuidade à segunda etapa do trabalho, que permitirá analisar amostras com material de mais de uma pessoa. Até o momento, duas ossadas foram identificadas, sendo uma delas de Aluísio Palhano, preso no antigo DOI-Codi, e a outra de Dimas Antônio Casemiro, um militante influenciado pelo socialismo.
A Vala de Perus também ficou conhecida quando o jornalista Caco Barcelos descobriu laudos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) indicando execuções. Segundo o Instituto Vladimir Herzog, os documentos continham uma letra “T” feita à mão com lápis vermelho, que supostamente se referia a “terrorista”.
Carla Osmo destaca que algumas vítimas eram de periferias e ainda não foram identificadas. Ela ressalta a importância de o Estado cumprir seu dever ao garantir a identificação das vítimas e a criação de um memorial em homenagem a elas, ouvindo os pesquisadores envolvidos, familiares, a comunidade de Perus e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
É fundamental lembrar que muitas famílias ainda não puderam se despedir dignamente de seus entes queridos que foram vítimas da violência do Estado durante a ditadura militar. A Vala de Perus é uma das maiores evidências das atrocidades cometidas nesse período sombrio da história brasileira.