DIREITOS HUMANOS – A multa penal afeta ex-detentos mesmo após o cumprimento da pena, prolongando os efeitos do encarceramento.



O Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) realizou um mutirão jurídico entre agosto e dezembro de 2022, no qual foi constatado que oito em cada dez pessoas atendidas eram negras, sendo pretas ou pardas. Além disso, sete em cada dez tinham um salário de até R$ 1,2 mil. Esses dados levantam questionamentos sobre como a penalidade de multa pode dificultar a ressocialização dos egressos do sistema carcerário.

Com o objetivo de dar visibilidade a esse recorte desde 2021, o IDDD está organizando atividades sobre o assunto nesta sexta-feira (18) e amanhã (19), na sede da Ação Educativa, para convidados e inscritos.

Vale ressaltar que sobreviver ao cárcere no Brasil, onde há injustiças, superpopulação e violações dos direitos humanos, já é um desafio considerável. No entanto, ao deixar a prisão, essas pessoas podem encontrar uma nova batalha com o fantasma da multa e a suspensão de diversos direitos.

Os resultados do mutirão jurídico também revelaram que a maioria dos atendidos (71,4%) eram presos com filhos e/ou dependentes e desempregados (59,3%). Dos 84 indivíduos que informaram ter um emprego na época do atendimento, 82,1% não estavam registrados. Além disso, quase um quinto (18,7%) se encontrava em situação de rua. Entre as mulheres atendidas, 33 eram solteiras e tinham filhos e/ou outros dependentes.

O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, com 642.638 detentos em unidades estaduais e 499 em celas de unidades federais, de acordo com a Secretaria Nacional de Políticas Penais. Além disso, há 5.555 presos em carceragens das polícias Civil, Militar, Federal e do Corpo de Bombeiros Militar.

No entanto, as bases de dados oficiais do governo federal não fornecem informações detalhadas sobre a proporção de presos que, além de cumprir a privação de liberdade, também estão sujeitos ao pagamento de multa. A coordenadora de projetos do IDDD, Vivian Peres, acredita que praticamente todos os detentos estejam nessa situação, apesar da falta de informações.

Vivian destaca que o perfil predominante nas prisões do Brasil é o de pessoas condenadas por crimes patrimoniais e relacionados à legislação de drogas, que também prevêem a pena de multa de acordo com o Código Penal. Isso resulta em muitos anos de restrição de direitos além da pena corporal já cumprida.

Em suma, os dados levantados pelo mutirão jurídico do IDDD revelam a desigualdade e as dificuldades enfrentadas pelos egressos do sistema carcerário, sobretudo aqueles que são negros e possuem baixa renda. O debate sobre a penalidade de multa e seus impactos na ressocialização dessas pessoas é essencial para promover uma justiça mais igualitária e eficaz no país.

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