Desmatamento Histórico: Lagoa Rodrigo de Freitas Perde Quase 50% de Seu Espelho d’Água e Revela Impactos de Aterros no Rio de Janeiro

Na Zona Sul do Rio de Janeiro, a Lagoa Rodrigo de Freitas, um cartão-postal amplamente admirado tanto por turistas quanto por cariocas, enfrenta uma drástica redução em sua área. Dados históricos revelam que, em comparação com 1809, a superfície de espelho d’água da lagoa encolheu cerca de 46%. Enquanto há mais de duzentos anos a lagoa ocupava 4,1 quilômetros quadrados, hoje se limita a 2,2 quilômetros quadrados. As intervenções humanas na região, especialmente a construção de aterros, tiveram início no século XX, conforme indicado por um estudo que analisou diferentes períodos, incluindo 1928, 1942, 1975, 1999 e 2024.

A visualização do desenho original da Lagoa, sobreposto ao mapa atual, revela que diversos marcos importantes da cidade, como a sede do Jóquei Club do Brasil, a Praça Santos Dumont, e até mesmo áreas residenciais, foram construídos sobre terrenos recrutados por meio de aterros. Essas transformações urbanas refletem um processo histórico contínuo de adaptação ao ambiente.

O geógrafo Leandro Souza, gerente de Cartografia do IPP, explica que as práticas de aterro ao longo do tempo proporcionaram diversas funções para o uso do solo na cidade. A Zona Norte, por exemplo, também passa por mudanças significativas, com a criação de aterros em áreas como Fundão e Maré, cada um com propósitos variados.

Um aspecto interessante da história carioca é que, antes da chegada dos trens, romeiros utilizavam barcos para chegar ao Santuário da Igreja de Nossa Senhora da Penha, demonstrando como a geografia influenciou práticas culturais. A transformação de áreas costeiras, como a de Manguinhos, onde hoje se ergue a Fundação Oswaldo Cruz, revela uma linha do tempo em que o mar se retirou para dar espaço à urbanização.

O urbanista Washington Fajardo considera que a história dos aterros no Rio é um testemunho da capacidade da cidade de se planejar e executar. Para ele, os cariocas possuem uma expertise incomparável em engenharia e planejamento urbano, comparável à dos holandeses.

Entretanto, a prática de aterrar zonas costeiras e alagar áreas para novas construções perdeu espaço no debate contemporâneo. Questões climáticas e preocupações ambientais tornaram-se centrais nas discussões urbanísticas. O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU/RJ), Sydnei Menezes, adverte que aterrar atualmente é considerado uma medida extrema. Ele menciona que esses atos têm um custo ambiental significativo, afetando ecossistemas vitais como manguezais e brejos, ao mesmo tempo que introduzem riscos de engenharia, demonstrados pelo desgasto do solo em regiões como Copacabana, que ainda sofre com a invasão natural.

Assim, a história dos aterros no Rio de Janeiro não apenas narra uma trajetória de urbanização, mas também levanta importantes questões sobre sustentabilidade e a relação entre cidade e natureza.

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