Desigualdade nas eleições dos EUA: Sistema eleitoral com raízes escravistas perpetua oligarquia, segundo professor



Os Estados Unidos se preparam para sua 60ª eleição presidencial, um evento que, apesar de ser amplamente promovido como um exemplo de democracia, tem profundas raízes em um sistema que favorece a oligarquia. O modelo de votação norte-americano, distinto do brasileiro, é indireto, o que significa que os cidadãos não votam diretamente em seus candidatos, mas sim para influenciar os delegados do colégio eleitoral. Este mecanismo, originalmente concebido para preservar o poder das elites, também provoca distorções significativas entre a vontade popular e os resultados finais nas eleições.

Analisando o sistema eleitoral, Carlos Eduardo Martins, professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca a grave discrepância entre os votos recebidos pelos candidatos e os que efetivamente se tornam delegados. Em apenas dois dos cinquenta estados, as regras estabelecem uma representação proporcional; nos demais, a maioria simples é suficiente para definir a totalidade dos delegados. Esse modelo contribuiu para que candidatos como Al Gore e Hillary Clinton, que venceram o voto popular, não ascendessem ao cargo presidencial por meio do colégio eleitoral, evidenciando falhas no sistema.

Martins, que tem expertise em ciência política, argumenta que a origem do colégio eleitoral remonta ao período escravocrata, quando buscava garantir que os estados do sul, com populações escravizadas sem direito ao voto, não fossem desconsiderados na eleição presidencial. Essa estrutura não apenas perpetuou a exclusão, mas até hoje contribui para a marginalização de grupos, especialmente os afro-americanos, que enfrentam barreiras significativas, como a política de encarceramento em massa.

Além das questões de representação, o ambiente político dos Estados Unidos é dominado por um sistema financeiro que controla as campanhas eleitorais. As famílias mais ricas do país, que representam apenas uma fração da população, detêm influência desproporcional sobre o resultado das eleições, alocando recursos que impactam diretamente a viabilidade de candidatos e suas propostas. Um estudo mostra que cerca de 400 famílias são responsáveis por mais de metade dos gastos nas campanhas, o que levanta sérias preocupações sobre a verdadeira representação democrática.

A contradição da democracia norte-americana, que se alegra em se considerar um bastião de liberdade, está exposta por essas dinâmicas, onde a oligarquia se mantém no poder, frequentemente em oposição aos desejos da maioria da população. Essa realidade desafia a narrativa de um sistema democrático plenamente funcional e levanta questões sobre a eficácia de suas práticas eleitorais em atender a voz do povo. Em um cenário em que a política parece estar mais voltada para o atendimento dos interesses de elite do que para a democracia efetiva, o futuro das eleições nos EUA continua a ser um tópico de intenso debate e análise.

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