Descoberta revela a dificuldade dos Australopithecus em caçar: não conseguiam correr rápido o suficiente para escapar dos predadores.



Um antílope ferido à beira de um rio, disputado por hienas e um crocodilo, deu início a uma cena de caça pré-histórica há cerca de 3 milhões de anos. Enquanto as hienas se banqueteavam com a carcaça, macacos com pedras afiadas se aproximavam para garantir seu quinhão da refeição. O clima tenso da disputa atraiu a presença de um grande felino extinto, o Homotherium, deixando no ar a dúvida se os macacos, provavelmente Australopithecus afarensis, conseguiriam escapar ilesos.

Tom O’Mahoney, professor sênior em Ciências Biomédicas da Universidade Anglia Ruskin, liderou uma pesquisa para modelar a anatomia e a capacidade de corrida desses ancestrais humanos primitivos. O Australopithecus afarensis, representado pelo famoso esqueleto parcialmente completo de Lucy, é um dos mais conhecidos primatas ancestrais, que habitaram a Terra entre 2,9 milhões e 3,9 milhões de anos atrás. A descoberta de Lucy na Etiópia, em 1974, foi fundamental para entender a evolução do bipedalismo e da expansão do cérebro em humanos primitivos.

Os cientistas acreditam que a nodopedalia, caracterizada pela movimentação de animais com os nós dos dedos das patas dianteiras apoiando o peso do corpo, tenha evoluído diversas vezes nos primatas. A anatomia dos hominídeos reflete uma adaptação para o movimento ereto em árvores de um ancestral distante. Os primeiros bípedes, como o Ardipithecus kadabba, viveram na África entre 5,8 e 5,2 milhões de anos atrás, em habitats de mosaico que incentivaram a movimentação em árvores.

A capacidade de acesso à carne na dieta dos Australopithecus afarensis tem sido objeto de debate entre os cientistas. Descobertas recentes de ferramentas de pedra e ossos marcados com cortes em regiões datadas de milhões de anos atrás desafiam a ideia de que apenas os humanos do gênero Homo produziam ferramentas. A hipótese da corrida de resistência sugere que o surgimento desse comportamento está associado à anatomia mais moderna dos humanos, como o Homo erectus.

A pesquisa liderada por O’Mahoney reconstruiu o esqueleto completo de Lucy em modelagem 3D, combinando características de Australopithecus, seres humanos e chimpanzés modernos. Simulações realizadas revelaram que a velocidade e a eficiência de corrida de Lucy eram inferiores às dos humanos modernos. A anatomia e arquitetura muscular dos membros humanos permitiram uma corrida mais rápida no gênero Homo, impossível de ser alcançada pelos Australopithecus afarensis.

Portanto, é improvável que os Australopithecus afarensis, como aqueles na cena de caça pré-histórica, tivessem escapado do grande felino. Sua capacidade de corrida limitada os tornava presas vulneráveis, incapazes de rivalizar com os predadores ágeis da época. A pesquisa de O’Mahoney oferece insights valiosos sobre a evolução da capacidade de corrida e a dieta dos ancestrais humanos, lançando luz sobre a adaptação dos primatas em um ambiente desafiador e competitivo.

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