Os pesquisadores realizaram uma análise detalhada dos resíduos orgânicos. Os resultados indicaram a presença de várias plantas, incluindo o harmal e o lótus egípcio, conhecidas por suas propriedades psicotrópicas. Além disso, a mistura continha também sementes de gergelim, pinhões, alcaçuz e uvas, sugerindo que os antigos egípcios tinham habilidades avançadas em criação de coquetéis que não apenas eram ritualísticos, mas também elaborados.
Adicionalmente, vestígios de fluidos humanos, como saliva e sangue, foram identificados no interior do vaso, levantando a hipótese de que esses ingredientes poderiam ter sido adicionados intencionalmente à bebida. Essa descoberta fomentou discussões acadêmicas sobre a possibilidade de que esses rituais tentassem reencenar o “Mito do Olho Solar”, no qual Bes apazigua Hathor, uma deusa do céu frequentemente relacionada à fertilidade, em um momento de fúria.
No contexto do mito, a narrativa descreve como Bes oferecerá a Hathor uma bebida alcoólica misturada com uma substância psicoativa, camuflada como sangue, para induzi-la a um estado letárgico. Essa intersecção entre prática ritualística e a busca por estados alterados de consciência revela aspectos complexos da cultura egípcia antiga e sua conexão com a espiritualidade e as divindades.
O estudo destaca não apenas a sofisticação dos antigos egípcios em criar substâncias que modulavam percepções, mas também as profundas crenças religiosas que permeavam suas práticas sociais. Uma nova luz é lançada sobre a forma como os egípcios se relacionavam com os deuses e a maneira como rituais poderiam engajar a comunidade em experiências transcendentes. Essas descobertas não apenas ampliam nosso conhecimento sobre a cultura egípcia, mas também nos instigam a refletir sobre o papel que as substâncias e os rituais desempenham na busca humana por significado e conexão espiritual.