Em um primeiro momento, os pesquisadores acreditavam que os corpos pertencessem a vítimas da Peste Negra, que devastou a Europa no século XIV. Contudo, análises de datação por radiocarbono indicaram que os sepultamentos datam do século XII, ou seja, cerca de 150 anos antes do surto da peste. Essa discrepância deixou em aberto a questão sobre as circunstâncias que levaram a essa sepultura em massa.
Os arqueólogos notaram que a vala parece ter sido preenchida rapidamente em três camadas sucessivas, sem indícios de violência, o que sugere que o sepultamento foi realizado sob circunstâncias de emergência. Os especialistas levantam hipóteses de que fome ou outra doença epidêmica poderia ter sido a causa do falecimento dessas pessoas.
Morris destaca que os 123 indivíduos representam cerca de 5% da população medieval de Leicester, sugerindo que a magnitude do evento que levou a esses sepultamentos foi significativa. Testemunhos históricos, como os contidos nas Crônicas Anglo-Saxônicas, documentam epidemias e crises alimentares que afetaram a região entre os séculos X e XII. A descoberta dos restos mortais é considerada uma prova concreta dessas adversidades que marcaram a história medieval inglesa.
O Instituto Francis Crick, em Londres, recebeu amostras dos materiais encontrados para investigar se há patógenos que podem ter contribuído para a morte dos indivíduos. A ausência de vestígios de roupas nos corpos sugere que eles foram preparados para o sepultamento de forma consciente, de acordo com as práticas que eram comuns diante de situações de emergência na época.
Este achado é apenas mais um capítulo na rica história da Catedral de Leicester, que já foi palco de significativas descobertas, incluindo o sepultamento do rei Ricardo III em 2015, que aumentou dramaticamente o número de visitantes ao local. No total, cerca de 1.200 sepultamentos que abrangem mais de oito séculos foram identificados na catedral, tornando-a um sítio de importância histórica e arqueológica inestimável.