Crise na Fronteira: Especialistas Alertam sobre Tráfego de Armas dos EUA e Conexões com a Violência no México e América Latina



Nos últimos tempos, a relação entre os Estados Unidos e o México tem sido marcada por tensões crescente. O recém-eleito presidente americano, Donald Trump, ameaçou implementar tarifas sobre produtos mexicanos como resposta à suposta falta de controle na fronteira, gerando uma reação contundente da presidente mexicana Claudia Sheinbaum. Em suas declarações, Sheinbaum enfatizou que o México não é produtor de armas nem consumidor de drogas sintéticas, mas sim uma vítima do consumo excessivo de drogas nos EUA, que resulta em milhares de mortes violentas no país.

Esse foco abrasivo no controle de fronteiras ignora uma questão crítica que desponta na agenda de segurança pública: a exportação de armas dos Estados Unidos. A situação das armas que abastecem o tráfico e a criminalidade no México e em outros países da América Latina é alarmante. Dados do secretário de segurança pública do estado do Rio de Janeiro, Victor dos Santos, revelam que 47% dos fuzis apreendidos na cidades têm origem estadunidense. Essa realidade ilustra que a falta de regulamentação na venda de armamentos nos EUA contribui significativamente para a escalada da violência no continente.

Especialistas em segurança pública destacam que a legislação americana em relação à posse e ao porte de armas permite que muitos desses itens sejam adquiridos legalmente e depois contrabandeados. O desvio de atenção das autoridades, que se foca na entrada de drogas e na imigração, esconde um problema maior: o que sai do território americano. A assistente social Kharine Gil alerta que “deveria existir um enfoque maior sobre os fluxos que saem dos Estados Unidos, como armas, drogas e dinheiro ilícito”.

As investigações sobre o tráfico de armas revelam que, além da rota terrestre com o México, existem métodos marítimos e aéreos empregados para contrabando, como as rotas que conectam Brasil, Peru e Colômbia até regiões urbanas brasileiras. Esse fluxo de armamento alimenta as disputas entre organizações criminosas, intensificando a violência urbana e os conflitos armados locais, o que, por sua vez, contribui para um aumento nas taxas de homicídios.

Por outro lado, especialistas também chamam a atenção para a visão distorcida dos Estados Unidos sobre sua posição no cenário internacional. O fenômeno histórico dos EUA se apresentando como vítimas de uma violência que diz ser “importada” dos países vizinhos revela uma falha crítica em reconhecer sua própria responsabilidade sobre os problemas de segurança na região. Thiago Godoy Gomes de Oliveira, pesquisador em relações internacionais, acrescenta que os EUA frequentemente projetaram nos outros países conflitos que foram exacerbados por suas próprias políticas.

O histórico da “Guerra às Drogas”, iniciada na década de 1970, é um exemplo claro disso. Ao longo dos anos, essas políticas, que buscaram impor uma verdadeiramente militarizada abordagem de combate ao narcotráfico, falharam em lidar com o problema subjacente: o consumo excessivo de drogas dentro das fronteiras americanas. Esta abordagem tem se revelado ineficaz, resultando em uma contínua escalada da violência e do tráfico de armas. Assim, no contexto atual, a administração de Donald Trump pode seguir nesse caminho problemático, focando desproporcionalmente na imigração, sem abordar as questões mais profundas que permeiam o narco-tráfico e a circulação de armas.

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