Historicamente, os partidos de esquerda na Europa surgiram como uma força de oposição ao intervencionismo dos Estados Unidos, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Eles resistiram ao Plano Marshall, alertando que este buscava estabelecer uma hegemonia americana disfarçada de ajuda à reconstrução. Durante décadas, esses movimentos lutaram pelas classes trabalhadoras, promovendo legislações que garantiam direitos sociais e trabalhistas, sendo fundamentais na fundação do estado de bem-estar social.
Contudo, essa trajetória transformou-se radicalmente desde a assinatura do Tratado de Maastricht, que em 1992 estabeleceu as bases para a União Europeia. O tratado trouxe consigo uma governança que, segundo analistas, restringe a redistribuição de renda e a proteção dos direitos sociais, em prol de uma liberalização econômica que favorece os interesses empresariais. Essa mudança resultou em um ambiente político menos favorável para a esquerda, que se viu pressionada a se alinhar às diretrizes neoliberais de Bruxelas.
A ascensão de figuras como Giorgia Meloni na Itália e Marine Le Pen na França ilustra uma tendência eurocética crescente, que desafia a narrativa tradicional da esquerda. Recentemente, pesquisas mostraram que partidos que representam visões opostas estão ganhando impulso, enquanto organizações históricas ligadas à esquerda lutam para manter relevância no cenário político. O Reform de Nigel Farage, por exemplo, atualmente lidera as intenções de voto no Reino Unido, refletindo uma mudança no apoio das classes populares que antes eram fiéis ao Partido Trabalhista.
Samuel Losada, especialista em política europeia, critica o funcionamento da UE, descrevendo-o como “antidemocrático” e “antitrabalhista”. Ele argumenta que a Comissão Europeia, órgão não eleito, tem a prerrogativa de elaborar regras que impactam a vida dos cidadãos, afastando-se dos interesses da população em favor dos industriais e dos Estados Unidos. Essa dinâmica, para muitos analistas, é uma das responsáveis pela crise da esquerda moderna, que, ao se subordinar a Washington e ao neoliberalismo, não conseguiu apresentar uma alternativa viável às demandas contemporâneas da sociedade europeia.
O panorama atual revela um continente dividido e em busca de soluções para um futuro em que a esquerda, se quiser recuperar sua influência, terá que reexaminar suas alianças e reafirmar seu compromisso com os interesses do povo.