Um dos principais indicadores desse cenário favorável é o preço da Abrasmercado, que é uma cesta com 35 produtos de consumo maciço, monitorados pela Abras. Essa cesta registrou uma queda de 5,33% em agosto, em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Além disso, os preços também apresentaram uma desvalorização de 1,71% em relação a julho, totalizando uma queda acumulada de 4,89% no ano. Os preços médios passaram de R$730,06 para R$717,55.
Um dos fatores que contribuiu para esse cenário favorável foi a queda nos preços das carnes, que favoreceu o consumo de proteínas. Os cortes dianteiros apresentaram uma queda de 1,10%, enquanto os cortes traseiros registraram uma redução de 1,78% em agosto. No acumulado do ano, essas quedas foram ainda mais expressivas, com -9,21% e -12,03%, respectivamente. Outras proteínas, como frango congelado, pernil e ovos, também tiveram queda nos preços.
Apesar desses índices favoráveis, ainda não é possível comemorar o crescimento do consumo de forma exagerada. De acordo com o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, a estabilidade de renda combinada com a queda nos preços dos alimentos permitiu que os consumidores adquirissem mais itens essenciais e buscassem produtos de maior valor agregado. No entanto, o diretor da Nielsen IQ, Domenico Filho, ressalta que o cenário ainda não é tão otimista devido ao poder de compra reduzido dos brasileiros, causado pela alta inflação e pelo endividamento.
A Abras mantém a projeção de crescimento de 2,5% do setor supermercadista para o ano de 2023, porém Milan acredita que essa estimativa pode ser ajustada nos próximos meses. Além disso, o setor supermercadista tem passado por uma expansão significativa, com a inauguração de 482 lojas somente nos primeiros nove meses deste ano.
No entanto, é importante ressaltar que a preferência dos consumidores tem se voltado cada vez mais para os atacarejos. Desde 2020, essas lojas têm dominado o consumo nos lares brasileiros, superando os supermercados tradicionais. Segundo a Nielsen, essa tendência tem se acentuado, com 73% dos lares brasileiros frequentando atacarejos, em comparação com 62% que ainda optam pelos supermercados. No entanto, Domenico Filho alerta que o crescimento dos atacarejos está mais relacionado à abertura de novas lojas do que ao desempenho individual de cada estabelecimento.
Portanto, embora os números indiquem um cenário positivo para o consumo nos lares brasileiros, é necessário cautela na análise desses dados. O aumento no volume de vendas está diretamente relacionado às quedas nos preços dos alimentos e aos programas de transferência de renda, porém o poder de compra ainda está afetado pela inflação e pelo endividamento.