Analistas destacam que a raiz do problema em Cabo Delgado está profundamente enraizada em fatores políticos, sociais e econômicos que afetam a região. Igor Borges Cunha, um especialista em estudos migratórios, aponta que a pobreza endêmica e a marginalização social dos jovens, especialmente no norte do país, criam um ambiente propício para a insurgência. A descoberta de grandes reservas de petróleo e gás natural deveria ser uma notícia positiva, mas, ao contrário, gerou descontentamento local por prometer desenvolvimento que nunca se concretizou. Em vez de melhorias, as comunidades enfrentam exploração por empresas multinacionais, alimentando o ressentimento popular.
Os ataques na região são atribuídos a um grupo conhecido como Al-Shabab, que não deve ser confundido com o grupo homônimo da Somália. Este Al-Shabab moçambicano, também chamado de Ansar al-Sunna, começou como uma revolta de jovens insatisfeitos com o governo, acusado de corrupção e de levar adiante eleições fraudulentas. O descontentamento cresceu e esses grupos acabaram se afinizando a ideologias extremistas que criticam as elites responsáveis pela exclusão socioeconômica.
A presença de organizações terroristas, como o Daesh, começa a se consolidar na região. O Al-Shabab se alinhou ao grupo terrorista em 2019, buscando apoio logístico e propaganda global, conectando a insurgência de Cabo Delgado a uma rede jihadista mais ampla.
No entanto, o que mais choca é a aparente indiferença mundial. Para Cunha, “a vida das pessoas do interior de Moçambique parece valer menos no imaginário coletivo ocidental”. Essa invisibilidade se deve também à falta de acesso à informação e à dificuldade de expor as realidades locais, ao contrário do que ocorre em outras partes do mundo, onde as manifestações e tragédias ganham destaque imediato na mídia.
A crítica à resposta do governo moçambicano também é contundente; as estratégias de combate têm se mostrado ineficazes, focando na repressão militar sem abordar as causas estruturais do conflito, como a marginalização das comunidades. A falta de atenção internacional e o desprezo da mídia são apenas alguns dos desafios que as comunidades de Cabo Delgado enfrentam em uma luta desesperada por reconhecimento e ajuda.