Colapso nos Cemitérios de Maceió: Famílias enfrentam sepultamentos em covas rasas devido à falta de espaço e condições adequadas de enterro público.

Em Maceió, o direito ao sepultamento digno, garantido pela Constituição Federal, se encontra em situação crítica. Com a crescente superlotação dos cemitérios públicos, muitas famílias se veem obrigadas a enterrar seus entes queridos em covas rasas, uma prática que, além de contrária à dignidade humana, gera preocupações sanitárias.

Atualmente, Maceió conta com oito cemitérios públicos. Porém, um deles está interditado devido à sua localização em uma área afetada pelas atividades da Braskem, e em outros, a falta de vagas se tornou um problema alarmante. O Cemitério São José, por exemplo, no bairro Trapiche da Barra, ilustra bem essa situação. Frequentemente, os caixões são enterrados a apenas 50 centímetros da superfície, expostos a intempéries que podem desenterrar restos mortais. Essa realidade, que deveria ser impensável, se tornou comum na capital alagoana.

Os dados são alarmantes: em 2023, foram registrados 1.855 sepultamentos feitos em covas rasas, o que equivale a uma média de cinco por dia. Essa prática não é apenas uma questão de escolha, mas uma necessidade imposta pela falta de espaços adequados para sepultamento. As famílias, além da dor da perda, enfrentam o constrangimento de não poder velar seus entes queridos de maneira digna. A dor se agrava com a fila de espera para sepultamento, que pode levar de três a quatro dias, o que torna a situação ainda mais angustiante.

Muitas pessoas, como a bióloga Neirevane Nunes, expressam sua indignação diante dessa realidade. Neirevane perdeu um primo e teve que enfrentar a angustiante experiência de enterrá-lo em uma cova rasa. Ela critica não apenas a falta de espaço, mas a violação de direitos que isso representa. A situação também levanta sérias questões de saúde pública, já que a superlotação e o desrespeito às normas de sepultamento podem agravar problemas sanitários na cidade.

Professor José Balbino, que tem atuado na luta por melhorias nas condições dos sepultamentos, ressalta que a crise funerária não é um problema novo, mas se acentuou com o aumento das mortes durante a pandemia. Ele lamenta a falta de diálogo com a prefeitura e lembra que, em 1910, já havia relatos de falta de espaço nos cemitérios, o que demonstra que a situação está longe de ser uma novidade.

Embora tenha sido anunciado um projeto para ampliar o Cemitério São Luís, a execução ainda não se concretizou, levando a Defensoria Pública a considerar ações judiciais para pressionar a prefeitura por soluções efetivas. Além disso, há propostas para construir novos cemitérios e implementar modelos verticais que poderiam aumentar a capacidade de sepultamento.

A situação atual dos cemitérios em Maceió requisita uma resposta urgente do poder público e da sociedade, sob pena de continuar a perpetuar essa realidade desumana e insustentável.

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