O conflito entre o governo de Nicolás Maduro, que busca a reeleição, e a União Europeia (UE), que se recusou a suspender sanções contra a Venezuela em troca de se tornar observadora das eleições, resultou na decisão do governo venezuelano de desconvidar a missão europeia. Conforme palavras de Amorim, que disse compartilhar os motivos de Maduro, essa ação enfraquece o processo eleitoral. Permaneceram, como observadores de credibilidade internacional, apenas o Centro Carter, dos Estados Unidos, e as Nações Unidas. Nessa conjuntura, Amorim se tornou uma figura central, e sua opinião sobre o processo eleitoral e seus resultados é esperada com muita atenção.
A equipe de Amorim está ciente do peso adquirido por sua presença e, por isso, age com extrema cautela. No país, além de Amorim, estão presentes o ex-líder espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, e os ex-presidentes Ernesto Samper, da Colômbia, e Leonel Fernández, da República Dominicana.
Após ser recebido pelo chanceler venezuelano Ivan Gil, Amorim, que chegou em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), arquitetou uma agenda de encontros que evite qualquer vinculação política antes das eleições. Dessa forma, ele não se encontrará com Maduro ou com outros candidatos até antes do pleito.
Cada ação, movimento e declaração de Amorim será pensada com cautela, pois o governo brasileiro se tornou o principal representante da comunidade internacional no país. A chegada de Amorim coincidiu com a proibição de decolagem do aeroporto do Panamá de ex-presidentes internacionais, como o mexicano Vicente Fox e o boliviano Jorge Tuto Quiroga, que se dirigiam à Venezuela. Na mesma sexta-feira, outros políticos de países como Espanha, Chile, Argentina e Colômbia também foram impedidos de entrar na Venezuela.
O governo de Nicolás Maduro não deseja a presença no país de atores associados diretamente à oposição, especialmente a líder opositora María Corina Machado, cujos apoiadores internacionais têm sustentado sanções contra a Venezuela, algo vigorosamente questionado pelo governo de Lula. Esses atores foram declarados “persona non grata” por Maduro.
O chanceler colombiano, Luis Gilberto Murillo, em visita oficial ao Brasil, cogitou viajar para a Venezuela, mas foi informado de que não seria bem-vindo. A chegada do vice-chanceler colombiano, Jorge Rojas Rodríguez, a Caracas foi adiada para a próxima semana.
Apesar das recentes tensões entre Lula e Maduro, fontes brasileiras relataram que o encontro entre Amorim e o chanceler venezuelano foi cordial. Durante a reunião, Amorim destacou a importância da eleição venezuelana para a região e, em particular, para o Brasil.
A relação entre Brasil e Venezuela é observada com atenção pelos diplomatas estrangeiros, já que o governo de Lula é considerado um dos poucos com capacidade de influenciar positivamente o processo eleitoral venezuelano, evitando uma crise política. A equipe de Amorim se mostrou satisfeita com o encontro com observadores do Centro Carter, que tem uma longa trajetória de trabalho em processos eleitorais na Venezuela. Amorim também deverá se reunir com analistas políticos locais e com representantes da oposição, como Gerardo Blyde, coordenador do diálogo com o governo Maduro por parte da oposição.