CAMARA DOS DEPUTADOS – Mulheres têm representação limitada e menos suporte financeiro em pós-graduações em ciências exatas e tecnológicas.



No Brasil, as mulheres estão cada vez mais presentes no meio acadêmico, sendo maioria entre os titulados na pós-graduação, estudantes de graduação e bolsistas de mestrado e doutorado. No entanto, ainda existem disparidades de gênero quando se trata de áreas de conhecimento e financiamento, além de dificuldades para as mulheres alcançarem o topo da carreira científica e tecnológica. Essa avaliação foi feita por especialistas durante uma audiência pública conjunta das comissões de Defesa dos Direitos da Mulher e de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados, realizada no dia 24 de agosto.

De acordo com Luana Bonone, coordenadora-geral de Popularização da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTCI), a disparidade de gênero por áreas de conhecimento reflete a divisão tradicional do trabalho. Em áreas como as ciências exatas e da terra e engenharias e computação, as mulheres representam apenas cerca de um terço dos bolsistas. Já em áreas como linguística, letras, artes e saúde, os bolsistas são majoritariamente mulheres.

Para garantir a equidade nas carreiras científicas e tecnológicas, Bonone defendeu a implementação de políticas públicas interministeriais e do Legislativo, com a participação do Judiciário e da sociedade civil. Ela citou algumas iniciativas do MCTCI, como o programa Futuras Cientistas, que estimula estudantes e professoras da rede pública de ensino a se envolverem com as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Além disso, ela mencionou o Programa Mulheres Inovadoras, que apoia startups lideradas por mulheres.

Mercedes Bustamante, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), destacou que as mulheres são maioria entre os professores universitários apenas nas áreas relacionadas à saúde e linguagem, letras e artes. Além disso, muitos estados do Norte e do Nordeste têm índices ainda menores de mulheres professoras em comparação com a média nacional.

Os dados da Capes mostram que, nos programas de pós-graduação, as mulheres representavam 42% dos pesquisadores em 2021. No entanto, no nível mais alto de formação, o doutorado acadêmico, essa porcentagem cai para 38%. Já no pós-doutorado, as mulheres representam 54% dos pesquisadores. Apesar desses números, Bustamante ressalta que ainda não há contratações suficientes para mulheres como professoras universitárias. Além disso, ela destacou a baixa representatividade de mulheres negras e indígenas entre as bolsistas de produtividade do CNPq.

A diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Dalila Oliveira, informou que as mulheres recebem valores menores nas bolsas de pesquisa, especialmente nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que recebem mais recursos do que as ciências humanas e sociais. Para enfrentar esse problema, o CNPq planeja lançar o edital Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação, com um investimento de R$ 100 milhões.

Durante a audiência, também foram discutidos outros desafios enfrentados pelas mulheres na academia, como a maternidade e a saúde mental. Ana Priscila Alves, vice-presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), ressaltou a importância de avançar na licença maternidade para todas as pós-graduandas e destacou a necessidade de combater o assédio sexual nas universidades.

A deputada Ana Pimentel (PT-MG), autora do requerimento para a realização do debate, ressaltou a existência do “efeito tesoura”, que se refere à redução do número de mulheres à medida que aumenta o grau de formação e as oportunidades na carreira docente. Ela destacou a importância de políticas públicas para promover a igualdade de gênero na academia e concluiu dizendo que é necessário desmistificar a ideia de que as carreiras de ciência, tecnologia, engenharia e matemática são mais adequadas para os homens.

Em resumo, a audiência pública revelou que, apesar da maioria feminina na pós-graduação, ainda existem desafios a serem superados. A divisão tradicional do trabalho e a falta de financiamento adequado para áreas como ciência e tecnologia limitam a participação das mulheres nessas áreas. Além disso, a maternidade e o assédio sexual são barreiras que também precisam ser enfrentadas. Para promover a equidade de gênero, é necessário implementar políticas públicas e mudar a cultura da academia.

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