BRICS: O Novo Movimento Não Alinhado e a Busca pela Reorganização do Sistema Internacional na Era do Pragmatismo Global

A ascensão do BRICS como um potencial protagonista no cenário internacional contemporâneo remete a uma nova interpretação do antigo Movimento dos Não Alinhados, uma iniciativa que buscava autonomia em meio às disputas da Guerra Fria. Desde sua fundação em 1961, este movimento teve como propósito criar um espaço para países que não se alinhavam nem aos Estados Unidos nem à União Soviética. No entanto, sua relevância diminuiu ao longo das décadas, enquanto o mundo se transformou em uma complexa rede de interdependências.

Atualmente, o BRICS — bloco que engloba Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de novas adesões — apresenta-se como um novo modelo de “não alinhamento”, mas com uma característica singular: a presença de economias emergentes robustas que conferem ao grupo uma força e uma influência que o Movimento dos Não Alinhados não conseguiu desenvolver. Segundo analistas, o BRICS representa uma nova ordem multipolar, na qual potências como China e Rússia exercem papéis de liderança contra a hegemonia norte-americana e suas instituições tradicionais, como o FMI e o Banco Mundial.

Diego Pautasso, especialista em relações internacionais, ressalta que a recente expansão do BRICS, em 2023, fortaleceu a capacidade do grupo de remodelar o sistema internacional, aproveitando um contexto global de economias emergentes. Ele observa que a correlação de forças global mudou significativamente, com uma diminuição da hegemonia ocidental.

Guilherme Conceição, outro especialista da área, argumenta que o BRICS não deve ser visto como uma entidade estritamente anti-ocidental, mas como um defensor do multilateralismo. Os membros do grupo mantêm relações distintas, moldadas por interesses econômicos e geopolíticos. Assim, em vez de rejeitar alianças, eles buscam formar parcerias estratégicas que promovam não só a estabilidade financeira, mas também um sistema internacional reformado.

A eficácia do BRICS em evitar a proliferação da fragmentação que afetou o antigo Movimento dos Não Alinhados dependerá, segundo Conceição, da sua capacidade de manter um equilíbrio entre interesses econômicos e objetivos políticos. A ênfase em áreas como comércio, finanças e desenvolvimento sustentável será crucial para estabelecer um novo paradigma cooperativo que reflete a diversidade e as necessidades de suas nações-membro.

Em resumo, o BRICS não é apenas uma coalizão econômica; é um fórum simbólico de grande relevância para o chamado “Sul Global”. Ao se afirmar como uma alternativa às estruturas tradicionais de poder, o grupo busca não apenas desafiar a ordem existente, mas também propor uma nova abordagem que leve em consideração a pluralidade das vozes e interesses presentes no cenário internacional.

Jornal Rede Repórter - Click e confira!


Botão Voltar ao topo