Com economias emergentes buscando se libertar da dependência do dólar, é crescente a adoção de moedas locais nas transações comerciais. A professora de Relações Internacionais Karina Calandrin argumenta que a participação crescente de países no BRICS está fazendo com que a dependência do dólar diminua significativamente. Essa mudança, na qual acordos financeiros já são negociados em outras moedas, reflete um cenário em que a exclusão do dólar se torna uma realidade palpável. Por exemplo, transações entre Rússia e Irã têm demonstrado este movimento, provocando preocupação em Washington.
Além disso, as sanções aplicadas à Rússia em decorrência do conflito na Ucrânia, que incluíram a exclusão do sistema Swift das transações internacionais, têm acelerado o processo de desdolarização. A Rússia, agora totalmente dependente de sistemas financeiros alternativos, tem buscado fortalecer acordos com outras potências como a China. Isso também provoca uma reavaliação das relações comerciais entre os países do BRICS, colocando em pauta a criação de uma moeda virtual que poderia facilitar ainda mais esse movimento.
Entretanto, a construção de uma moeda comum para o BRICS enfrenta desafios substanciais. O professor Renan Silva ressalta que, embora a ideia seja viável, a implementação requer um tempo considerável e estratégias bem definidas, especialmente devido às diferenças políticas entre os membros do grupo. Com isso, há um receio de que a adoção de uma nova moeda possa não ser aceita por todos os países, que ainda veem vantagens nas transações em dólares.
Os impactos do dólar na economia brasileira são também um aspecto crucial dessa discussão. A desdolarização poderia aliviar os efeitos da volatilidade do dólar, que atualmente influencia a economia local de maneira negativa. Em um ambiente onde os preços dos insumos são impulsionados pelo valor da moeda americana, a autonomia no comércio através de moedas locais poderia trazer benefícios diretos à economia e ao poder aquisitivo dos cidadãos.
Por outro lado, a dependência dos EUA em relação ao comércio com a China, bem como a crescente autossuficiência de países que abandonam o dólar, pode gerar um ambiente de competição acirrada, desafiando a liderança econômica americana.
Nesse contexto, o futuro do dólar como moeda predominante nas transações globais é incerto, com o fortalecimento das alianças entre os países do BRICS abrindo novas perspectivas para um sistema financeiro mais diversificado e menos dependente da moeda americana. Essa transformação não apenas moldará a economia dos países envolvidos, mas pode alterar a dinâmica geopolítica em nível global.