Brasileiros Retornam ao País: Desilusões com o Sonho de Vida no Exterior e o Choque da Realidade



Nos últimos anos, um fenômeno curioso tem se destacado entre os brasileiros que vivem no exterior: o retorno à terra natal. O que antes era considerado um sonho, especialmente para aqueles que buscavam oportunidades em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e na Europa, agora está sendo reavaliado. A crescente migração de brasileiros para seu país de origem levanta questões sobre as razões por trás dessa decisão, que parece desafiar a narrativa tradicional de que morar fora é sempre sinônimo de sucesso e realização.

Para compreender esse movimento, especialistas recorrem a um conceito fundamental: o desejo humano de melhorar sua vida. O psicanalista Gabriel Binkovski, professor do Instituto de Psicologia da USP, aponta que as motivações para a migração muitas vezes envolvem não apenas o anseio por melhores condições econômicas, mas também o desejo de escapar de contextos de repressão e busca por liberdade pessoal. No entanto, mesmo após a conquista de um novo lar, muitos imigrantes enfrentam desafios emocionais e sociais ao retornar ao Brasil.

Binkovski, que passou sete anos vivendo na França, compartilha que o retorno ao Brasil trouxe consigo uma série de desafios emocionais. O contraste entre as expectativas familiares e a realidade do país pode criar um ambiente de desilusão. Ele relata que, ao ouvir o português após o regresso, sentiu-se estranho, como se uma parte sua estivesse desaparecida durante a ausência. Essa sensação de “invasão” emocional é comum entre retornados, que frequentemente precisam lidar com expectativas externas e a frustração de um Brasil que, em seus olhos, está fragmentado e repleto de incertezas.

Um exemplo pessoal que ilustra essa mudança de perspectiva é o de Lorena Ingrid, fotógrafa e jornalista que se mudou para a Irlanda durante a pandemia. Motivada por uma crise de realização, Lorena decidiu partir em busca de novas oportunidades, mesmo sem avisar sua família antecipadamente. Durante o tempo que passou na Irlanda, ela sentiu que a adaptação ao novo ambiente foi gradativa e enriquecedora, revelando um processo de crescimento e reinvenção pessoal.

A história de Lorena e as reflexões de Binkovski evidenciam que a migração, além de ser uma busca por melhores condições de vida, também está profundamente conectada ao aspecto emocional e à busca de pertencimento. A experiência do retorno pode ser interpretada como uma recuperação da identidade, um reatamento com as raízes que, embora doloroso, é muitas vezes visto como essencial para a realização pessoal. Assim, o sonho de viver no exterior se transforma não apenas em uma busca por sucesso, mas também em um caminho para descobrir o que realmente significa “casa”.

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