O professor Luciano Losekann, da Universidade Federal Fluminense, menciona que a proposta de importação do gás argentino é, sim, uma oportunidade, mas não transformará a competitividade da indústria gasífera brasileira. O gás proveniente da Argentina precisa atravessar a Bolívia e, para isso, estão envolvidos custos de transporte que acabam encarecendo o produto final.
Marco Rocha, da Universidade Estadual de Campinas, reforça que a questão da infraestrutura é um dos entraves que dificultam a popularização do gás natural na matriz energética do Brasil. Ele aponta que a rede de gasodutos é concentrada na região Sudeste, carecendo de integração e capilaridade em outras partes do país. Essa falta de infraestrutura, por sua vez, reflete uma fragmentação que dificulta a normalização de acordos como a formação de preços.
Além da infraestrutura, a legislação é um fator que também precisa ser considerada. Há um complexo quadro regulatório que pode variar entre os estados, o que potencializa a confusão na formação de preços e nas tarifas, impactando novos acordos e investimentos. Para contornar esses problemas, especialistas defendem a necessidade de um marco regulatório unificado e acordos que possibilitem uma colaboração mais efetiva entre as empresas, incluindo a Petrobras.
Luis Augusto Medeiros Rutledge, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, adiciona um ponto relevante: a questão dos custos de transporte. Ele menciona que, caso esses custos ultrapassem certos limites, a importação se tornaria inviável. O governo brasileiro considera importar aproximadamente 30 milhões de metros cúbicos de gás de Vaca Muerta diariamente até 2030, mas os gargalos de infraestrutura ainda são um desafio. A solução pode passar não apenas pela importação, mas pelo fortalecimento de terminais de gás natural liquefeito e pela ampliação da rede de gasodutos, facilitando a distribuição para cidades do interior, onde o gás ainda não é uma fonte energética predominante.
Em suma, o acordo com a Argentina deve ser visto como um passo, mas não é uma solução definitiva. O Brasil precisa de um esforço conjunto em termos de regulamentação e infraestrutura para que consiga viabilizar uma matriz energética mais robusta e eficiente, capaz de atender à sua crescente demanda por gás natural.