Brasil deve manter relações com Israel para garantir papel de mediador, afirmam especialistas sobre pressões por rompimento.

O complexo cenário político internacional em que o Brasil se insere, especialmente no que tange às relações com Israel, desperta intensos debates. Recentemente, ato contínuo de ações militares israelenses na Palestina e no Irã provocaram uma onda de clamor por parte de setores da sociedade e políticos que exigem que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva rompa laços diplomáticos com o país. Contudo, analistas políticos sugerem que tal medida acarretaria perdas significativas para o Brasil, especialmente em sua busca por um papel mediador em questões globais.

Entre os que advogam pelo rompimento das relações, está uma parcela significativa do eleitorado e figuras influentes do Partido dos Trabalhadores (PT). Embora os apelos sejam frequentes nas redes sociais, Lula até o momento não demonstrou disposição para adotar uma postura radical. Em conversas recentes, Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, destacou a necessidade de uma ação firme contra Israel, mas descartou a ideia do rompimento.

Bruno Hendler, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, argumenta que a política externa brasileira historicamente se alicerça na mediação. Para ele, a diplomacia é um espaço onde Lula pode atuar com mais liberdade, sem as restrições que enfrenta no âmbito interno, onde encontra oposição no Congresso. Hendler sugere que a visão do Brasil em relação ao conflito no Oriente Médio é influenciada por uma antiga tradição de solidariedade, que remonta à Conferência de Bandung de 1955, enfatizando a sua relevância em um mundo contemporâneo cada vez mais tenso e conflituoso.

Por outro lado, Arnaldo Francisco Cardoso, cientista político, afirma que o Brasil tem se posicionado principalmente a favor do diálogo e da paz, ressaltando que romper relações com Israel “descredenciaria” o país em sua ambição de atuar como mediador de conflitos internacionais. Essa postura, segundo Cardoso, é vital, pois o Brasil mantém laços comerciais importantes com Israel, abrangendo setores de tecnologia e segurança.

Ainda assim, a gestão atual não é indiferente ao que ocorre no cenário internacional. Lula foi um dos primeiros líderes a qualificar como genocídio as ações militares israelenses contra a população palestina em Gaza, ao mesmo tempo que condenou ataques perpetrados pelo Hamas. A defesa por uma solução de dois Estados e o reconhecimento da Palestina como uma nação independente permanecem como pilares da política externa brasileira.

Em um cenário onde a pressão popular por uma resposta mais contundente sobre as ações israelenses aumenta, é claro que a diplomacia brasileira enfrenta o delicado desafio de equilibrar suas tradições com as exigências contemporâneas. Observadores acreditam que as próximas eleições presidenciais influenciarão as decisões do governo, uma vez que setores da sociedade clamam por uma postura mais firme, enquanto outros, alinhados a interesses da direita, defendem laços mais estreitos com Israel. Assim, o Brasil navega pelas turbulentas águas da política externa, tentando manter sua imagem como um mediador imparcial no complexo tabuleiro do Oriente Médio.

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