No contexto atual, o Brasil depende fortemente de empresas estrangeiras para realizar atividades digitais essenciais, o que suscita preocupações sobre a segurança dos dados gerados no país. Governadores de estados, sem uma legislação federal consolidada, têm buscado firmar parcerias diretas com gigantes da tecnologia, como a Amazon, para desenvolver projetos de IA em seus estados. Essa movimentação revela a falta de uma estratégia nacional coesa e a instabilidade das regulações, que se tornam um campo fértil para a competição entre estados em busca de investimento externo.
Isabela Silveira Rocha, pesquisadora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), alerta que essa situação resulta em uma ausência de infraestrutura tecnológica soberana. Segundo ela, a capacidade de um país de gerenciar e proteger os dados de seus cidadãos é um forte indicativo de sua autonomia digital. No Brasil, órgãos de segurança, como a Polícia Federal, frequentemente dependem de permissões de empresas americanas para acessar informações sobre cidadãos brasileiros, o que ilustra a fragilidade da soberania digital do país.
Para reverter essa situação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lançou o Plano Nacional de Data Centers (Redata), que visa incentivar a construção de datacenters por empresas dos EUA em território brasileiro. No entanto, especialistas criticam a iniciativa, argumentando que ela perpetua a dependência tecnológica, uma vez que estas corporações utilizam tecnologia de código fechado, levantando questões sobre a transparência no processamento de dados locais.
A cooperação entre os países do BRICS, que abriga potências com experiência em IA como China, Rússia e Índia, é apresentada como uma alternativa viável para fortalecer a soberania digital do Brasil. Este grupo pode colaborar em projetos de código aberto e transferência de tecnologia, respeitando as particularidades e a autonomia dos países membros. Os analistas ressaltam que a construção de um ambiente digital multipolar é crucial para o futuro da tecnologia no Brasil e no mundo.
A mensagem é clara: é necessário um movimento mais audacioso e alinhado durante a presidência brasileira do BRICS para garantir que o Brasil não apenas se integre ao avanço tecnológico global, mas também o faça com um senso de soberania e responsabilidade em relação aos seus dados e cidadãos.