Pela primeira vez na história, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou uma pesquisa que investigou a população quilombola do país. De acordo com os dados do Censo 2022, estima-se que existam 1,32 milhão de quilombolas no Brasil, o que corresponde a 0,65% da população total do país.
Os números revelam que existem 473.970 domicílios onde pelo menos uma pessoa se identifica como quilombola, espalhados por 1.696 municípios brasileiros. A região Nordeste concentra a maior parte desses indivíduos, representando 68,19% do total, ou seja, 905.415 pessoas.
O Censo também identificou que existem territórios quilombolas oficialmente delimitados, onde vivem 203.518 pessoas, sendo 167.202 quilombolas, ou seja, cerca de 12,6% do total da população quilombola do país. No entanto, apenas 4,3% da população quilombola reside em territórios já titulados no processo de regularização fundiária.
Gisele dos Santos, recenseadora quilombola, ressaltou a importância dessa pesquisa para a comunidade quilombola: “Essa pesquisa é importante para mostrar que nós, quilombolas, podemos estar onde quisermos. A luta continua. Eu acredito que esses números se estendem, vão além. Foi difícil fazer essa pesquisa porque muita gente não sabe da importância desses números, mas sei que isso pode melhorar nossa vida, porque precisamos que políticas públicas sejam criadas para atender às nossas necessidades”.
A Bahia é o estado com a maior quantidade de quilombolas, totalizando 397.059 pessoas, o que representa 29,90% da população quilombola do país. Em seguida, vem o Maranhão, com 269.074 pessoas quilombolas, correspondendo a 20,26% dessa população. Juntos, esses dois estados concentram metade da população quilombola do Brasil.
O Censo também mostrou que dos 5.568 municípios brasileiros, 1.696 têm população quilombola. Senhor do Bonfim, na Bahia, é a cidade com a maior quantidade absoluta de quilombolas, com 15.999 pessoas, seguida por Salvador, também na Bahia, com 15.897 pessoas.
O IBGE enfatiza a importância de retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da realidade para o exercício da cidadania, ampliando a visibilidade dos povos e comunidades tradicionais. No país, existem 494 territórios quilombolas oficialmente delimitados, presentes em 24 estados e no Distrito Federal, porém apenas 12,6% da população quilombola reside nesses territórios, enquanto 87,4% se encontram fora de áreas formalmente delimitadas e reconhecidas.
A região Norte é a que apresenta a maior proporção de quilombolas residindo em territórios delimitados, com 31,3% da população quilombola. Além disso, os estados do Amazonas, Sergipe e Mato Grosso do Sul têm as maiores proporções de quilombolas em territórios delimitados.
No entanto, alguns estados têm uma presença maior de pessoas não quilombolas nos territórios oficialmente delimitados, como Paraíba, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. O Piauí, Rondônia e Rio Grande do Norte são os estados com os menores percentuais de não quilombolas nos territórios.
Esses números do Censo contribuem para aumentar o conhecimento sobre a população quilombola no Brasil e reforçam a necessidade de políticas públicas específicas para atender às necessidades dessa comunidade histórica e culturalmente importante.