A decisão de colocar um militar brasileiro à frente das operações de paz na RDC não é casual. Historicamente, o Brasil possui uma sólida trajetória em missões de paz ao redor do mundo, e essa não é a primeira vez que oficiais brasileiros lideram forças da MONUSCO. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, por exemplo, foi fundamental na expulsão do M23 em 2013, quando pela primeira vez as tropas da ONU foram autorizadas a atuar ativamente em combate.
Ainda que o Brasil não tenha enviado tropas desde 2020, sua expertise em operações de paz é altamente valorizada. Especialistas em segurança destacam que a experiência adquirida pelos militares brasileiros em diversas missões, como em Angola, Moçambique e Timor-Leste, coloca o Brasil em uma posição de reconhecimento internacional na capacitação de pessoal para essas operações.
No entanto, o contexto atual é mais complexo. Logo após a mudança de comando, um cessar-fogo foi acordado entre as forças rebeldes e o governo congolês, sugerindo uma possível abertura para negociações. A expectativa é que o general Ulisses ajuda a facilitar esse diálogo, aproveitando sua posição como um ator neutro que representa a ONU. Contudo, a dinâmica do conflito é intrincada, envolvendo não apenas grupos locais, mas também interesses de nações vizinhas, como Ruanda e Uganda, que têm seus próprios interesses econômicos e étnicos no local.
Em meio a essa nova fase, analistas ressaltam que a verdadeira solução para a crise não depende apenas de ações militares, mas sim de um processo político que considere as demandas de segurança e desenvolvimento de todos aqueles envolvidos. A RDC, rica em recursos minerais, continua a ser um ponto focal de tensões que não se limitam a suas fronteiras, levantando preocupações sobre a possibilidade de uma crescente desestabilização da região africana como um todo. Portanto, o papel do Brasil pode ser crucial não apenas para a segurança local, mas também para a estabilidade de toda a região dos Grandes Lagos.