A trajetória de Murillo destaca a importância do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), que atua como um elo vital entre pacientes e doadores. Criado em 1993, o Redome já possui cerca de 5,9 milhões de doadores, sendo considerado o terceiro maior banco de doadores do mundo. Este registro é essencial não apenas para o Brasil, mas também para a luta global contra doenças hematológicas, pois a chance de encontrar um doador compatível nesse sistema é de aproximadamente 90%.
Embora a busca por doadores muitas vezes comece na família, nem sempre há compatibilidade. Quando isso acontece, o Redome se torna a alternativa viável, permitindo que os pacientes tenham acesso a um banco diversificado de doadores. Mais de 75% dos transplantes realizados no Brasil têm origem nesse registro, enquanto apenas 10% a 15% dependem de doadores estrangeiros.
Murillo, que foi transplantado em 2012 em um hospital público de Jaú, experimentou essa busca pela compatibilidade e, após o procedimento, a relação com sua doadora ganhou uma nova dimensão. Após cinco anos, ele conseguiu contatá-la, surpreendendo-a com um e-mail e mostrando sua tatuagem, que representa não apenas um ato de gratidão, mas também de conexão humana.
A coordenadora do Redome, Danielli Oliveira, enfatiza que a existência de um registro expressivo no Brasil é um feito notável, considerando os desafios econômicos e sociais do país. Ela ressalta que a diversidade genética da população brasileira contribui para a eficácia do registro, tornando-o um modelo importante na América Latina, onde estruturas semelhantes ainda são incipientes.
Contudo, a doação de medula óssea ainda enfrenta barreiras. Mitos e receios sobre o processo dificultam a adesão de novos doadores. Muitos inscritos desistem quando são acionados, evidenciando a necessidade de mais informação e sensibilização sobre a importância da doação. Médicos como Denys Eiti Fujimoto e Carmen Vergueiro ressaltam o impacto que um único doador pode ter na vida de um paciente, chamando atenção para a urgência e a responsabilidade dos que se comprometem a se cadastrar.
Neste contexto, a história de Murillo se destaca como um símbolo de esperança e recuperação, reforçando a importância de um banco de doadores bem estruturado e a necessidade de conscientização em torno da doação de medula óssea no país. Cada doador potencial pode não apenas salvar vidas, mas também criar laços que ultrapassam fronteiras e culturas, mostrando que, no fim, a humanidade e a empatia são universais.