No entanto, especialistas em nutrição começaram a questionar a abordagem generalizada sobre os alimentos ultraprocessados, afirmando que a definição pode ser bastante vaga. Além disso, ressaltam a necessidade de mais pesquisas, argumentando que alguns alimentos ultraprocessados podem ser saudáveis. O conceito de alimentos ultraprocessados foi introduzido em 2009 por Carlos Monteiro, pesquisador de nutrição e saúde da Universidade de São Paulo.
A partir da definição de Monteiro, os alimentos são classificados em quatro grupos, sendo os alimentos ultraprocessados o quarto grupo. Esses alimentos são considerados por Monteiro como “formulações de substâncias derivadas de alimentos” e geralmente são enriquecidos com corantes, aromatizantes e outros aditivos para se tornarem palatáveis.
Alguns exemplos de alimentos ultraprocessados são batatas fritas, sorvetes, refrigerantes e pizzas congeladas, mas também podem incluir itens aparentemente saudáveis, como leites não lácteos, fórmulas infantis e pão de supermercado. Até mesmo nos Estados Unidos e no Reino Unido, quase 60% das calorias consumidas vêm de alimentos ultraprocessados.
Apesar dos estudos que indicam a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e doenças cardiovasculares, câncer, asma, depressão e outras doenças, alguns especialistas ressaltam que a maioria dessas pesquisas é observacional, não conseguindo demonstrar uma relação direta de causa e efeito.
Um estudo clínico realizado nos EUA, no qual pessoas foram alimentadas com alimentos ultraprocessados ou não processados, mostrou que aqueles que consumiram alimentos ultraprocessados apresentaram um aumento de peso considerável comparado aos que seguiram uma dieta não processada. No entanto, os pesquisadores ressaltam que não houve limitação na quantidade de alimentos consumidos, o que pode ter influenciado os resultados.
Em meio a essas controvérsias, alguns pesquisadores e especialistas em nutrição buscam desenvolver dietas saudáveis baseadas em alimentos ultraprocessados, argumentando que é possível incluir esses produtos de forma equilibrada em uma alimentação saudável. No entanto, há preocupações sobre a confusão gerada pela classificação atual dos alimentos ultraprocessados e os desafios relacionados ao acesso e custo de alimentos frescos e não processados.
Apesar das considerações sobre diferentes perspectivas e argumentos, o debate sobre os alimentos ultraprocessados continua, deixando pessoas em busca de uma alimentação saudável em uma encruzilhada. Afinal, como destacou o nutricionista Julie Hess, a maioria das pessoas já sabe quais alimentos são bons para elas, citando frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e laticínios com baixo teor de gordura como exemplos de uma dieta saudável.