Nos últimos anos de vida, Delon enfrentou uma série de dificuldades resultantes de um derrame que sofreu há cinco anos. Sua saúde fragilizada foi apenas um dos fatores que contribuíram para uma velhice melancólica. Além disso, o ator viu-se no centro de disputas entre seus filhos e conflitos com sua última companheira, um panorama que aumentou seu desejo de partir. Delon chegou a admitir publicamente o desejo de recorrer ao suicídio assistido, evidenciando seu profundo sofrimento. Quando recebeu a Palma de Ouro honorária em Cannes, comentou que considerava a homenagem como uma espécie de tributo póstumo.
Apesar da inclinação natural a ser rotulado como galã devido à sua aparência impressionante, Delon possuía um talento dramatúrgico que não deveria ser subestimado. Seus papéis mais memoráveis vieram à vida pelas mãos de diretores italianos, em especial Michelangelo Antonioni e Luchino Visconti. Com Antonioni, ele atuou em “L’Eclisse”, contracenando com Monica Vitti, tendo o papel de um corretor da bolsa em um romance que reflete a silenciosa complexidade das emoções humanas.
Visconti teve um papel fundamental em catapultar Delon ao estrelato internacional. Em “Rocco e i suoi Fratelli”, interpretou um boxeador oriundo de uma família migrante do sul da Itália. A câmera de Visconti capturou a juventude e beleza de Delon de maneira quase reverente. A parceria entre ator e diretor continuou com “Il Gattopardo”, onde Delon interpretou o príncipe Tancredi, imortalizando a cena de baile com Claudia Cardinale, que se tornou icônica pela intensidade e perfeccionismo exigido por Visconti.
Delon frequentemente afirmava que tudo o que alcançou foi graças às mulheres em sua vida. Entre suas muitas relações, a mais intensa foi com a atriz austríaca Romy Schneider. Seu relacionamento tempestuoso e apaixonado, que durou cinco anos, deixou marcas profundas em ambos. Mesmo após o fim, Delon foi o apoio de Schneider em momentos extremamente difíceis, como no enterro do filho dela.
Conhecido por algumas controvérsias e acusações de misoginia, racismo e homofobia, Delon sempre manteve uma postura francamente prepotente, alegando que sua vida foi uma troca constante de tapas emocionais, mas negando ter molestado qualquer mulher.
A aura carismática e as complexas facetas de Alain Delon o tornaram uma figura fascinante do cinema e da cultura francesa. Com uma vida marcada por contrastes entre a beleza cinematográfica e a dura realidade, Delon permanece como uma enigmática figura que cativou e continuará a cativar gerações. Seu legado é um testamento de como o talento e a beleza, juntos, podem criar ícones eternos.