Suas primeiras vivências, de 1899 até 1910, ocorreram em Viçosa, onde se moldaram as bases que mais tarde definiriam sua obra literária. O livro “Graciliano Ramos em Viçosa,” agora disponível na livraria da Imprensa Oficial, mergulha neste período essencial do autor. Escrita por Sidney Wanderley e Júlia Cunha, esta publicação explora as influências iniciais, as leituras e experiências que formaram o jovem Graciliano, ainda em crescimento.
O prefácio, assinado pelo renomado escritor e jornalista Xico de Sá, sublinha com eloquência o impacto das vivências em Viçosa para a trajetória criativa de Graciliano. Xico afirma que a substância de Graciliano “fermentou” nesta cidade, uma origem eternamente presente em sua arte e na sua trajetória, e elogia a pesquisa elaborada por Wanderley, que faz uma “arqueologia poética” ao buscar os vestígios deixados pelo autor, ampliando seu legado para um público mais vasto.
A jornada literária de Graciliano iniciou-se com “Caetés” (1933), onde ele utiliza um estilo despojado e incisivo para narrar a história de Paulo, um jovem que retorna à sua cidade natal após vários anos. Contudo, foi com “Vidas Secas” (1938) que Graciliano fincou seu nome entre os grandes da literatura mundial. Este romance, uma análise profunda e comovente da vida de uma família de retirantes sertanejos, investigou temas universais como opressão e resiliência.
Nos últimos anos de sua vida, Graciliano apresentou “Memórias do Cárcere”, lançado em 1953, ano de seu falecimento. Neste livro, ele relata suas experiências durante sua prisão entre 1936 e 1937 sob o governo Vargas, expondo as injustiças e brutalidades carcerárias. Infelizmente, a obra permaneceu sem seu capítulo final, que o autor não conseguiu concluir.
O legado de Graciliano Ramos transcende gerações, tornando-se uma chave crucial para entender as nuances e as lutas do Brasil, em especial do homem nordestino. As obras de Graciliano são hoje peças centrais nos debates sobre a condição social e humana, servindo como um espelho para o passado e uma lente através da qual se podem discutir novas realidades.