A chegada dessas pioneiras, conforme recorda a sargento Cristina Silva, não foi simples. Ela descreve o momento como um “rompimento”, ao trazer uma nova perspectiva para o ambiente dominado por homens. “Todos os olhares se voltaram para nós, que desconhecíamos como agir. Era assustador”, relembra Cristina. Para muitas dessas mulheres, que vinham do interior e nunca haviam vivenciado o rigor militar, o desafio era gigantesco, mas ao mesmo tempo estimulante. “Todo mundo nos observava com desconfiança, mas nossa certeza era clara: ‘Estamos aqui para ficar’”, completou.
As tensões não eram apenas internas. A sargento Sônia Quintela compartilhou que muitos colegas de farda manifestavam resistência à integração feminina. Comentários depreciativos como “Essas mulheres vêm fazer o quê aqui?” e “Bandido não vai respeitar essas mulheres” eram comuns na época, refletindo uma resistência alimentada por crenças ultrapassadas sobre o papel da mulher na segurança pública. Essa mentalidade, segundo Sônia, era evidente, mas as pioneiras estavam decididas a provar seu valor no campo operacional, uma área hoje amplamente ocupada por mulheres na PM.
Em meio a esse cenário, despontou a figura do aspirante Dimas Cavalcante, que já havia tido contato com mulheres na tropa durante sua formação na Academia de Polícia de Minas Gerais. Sua experiência foi vital para a inclusão feminina na corporação alagoana, sobretudo quando assumiu o comando do Pelotão das Soldadas. Dimas, que viria a ser coronel da PM, foi fundamental na construção da identidade dessas mulheres como militares, lidando com os desafios e moldando-as para o serviço policial.
Dimas Cavalcante, conforme relato da jornalista Fernanda Alves, acreditava firmemente no potencial das mulheres dentro da corporação. Seu compromisso foi essencial na criação de um treinamento de qualidade para as novas recrutas. Após sua passagem pelo comando do Pelotão, Dimas ascendeu a posições de liderança dentro da Polícia Militar de Alagoas, alcançando eventualmente o posto de comandante-geral da corporação. Ao refletir sobre sua carreira, ele considera o período em que comandou a primeira turma de mulheres na PM como um dos mais gratificantes na sua trajetória profissional.
Essa história, embora inicial em seu tempo, representa a evolução contínua das forças de segurança em aceitar e valorizar a diversidade de gênero, provando que competência e dedicação estão além das barreiras de gênero.