É importante ressaltar que viver isolado vai contra a natureza humana. Somos seres sociais e dependemos dos outros para encontrar sentido em nossas vidas e obter satisfação emocional. Porém, isso não significa que devemos nos anular nas nossas relações afetivas. É fundamental preservar nossa integridade e estabelecer limites pessoais.
Encontrar-se consigo mesmo é um desafio e uma elevação da condição mental. Não é fácil aceitar que não nos bastamos como somos e que buscamos ser amados. Mas bastar-se a si mesmo é uma condição necessária para o crescimento e o desenvolvimento pessoal.
Alguns indivíduos não conseguem lidar com a solidão e se esforçam para escapar de si mesmos. Recorrem ao álcool, às drogas ou a outros meios para anular sua existência. Eles se tornam vazios, dependentes de agitação e de estarem sempre acompanhados, pois temem o silêncio e o pensamento.
Da mesma forma, aqueles que se alienam em grupos que idolatram políticos, espalham teorias conspiratórias ou vivem em fantasias proporcionadas por reality shows e redes sociais, estão fugindo da concretude da vida. Eles se tornam avatares, desconectados da realidade e substituindo-a por narrativas irreais.
Até mesmo os intelectuais, que supostamente deveriam estar mais conscientes dessas armadilhas, muitas vezes se afastam da realidade concreta, presos a discursos prontos e idealizações. Desenham autoritariamente o futuro ou reescrevem o passado, sem confrontar os fatos.
A realidade é complexa e inventada. Não podemos permitir que outros produzam ficções vulgares para nós. Devemos valorizar a literatura e a arte como formas de escapar da realidade, mas de forma consciente e crítica. Assim como disse o cineasta Pedro Almodóvar, “A ficção é necessária porque a vida das pessoas não é suficiente, a realidade é incompleta”.
Portanto, não devemos fugir da solidão, mas vivê-la de forma consciente. Devemos permitir a imaginação e nos absorver em enredos próprios, mas com cautela para não cair em ilusões. A arte nos ajuda a sobreviver, mas é importante lembrar que ela é uma confissão de que a vida não basta.