WikiLeaks Revela Verdadeira Face dos EUA e Inabalável Imagem de Civilidade após Vazamento de Documentos Militares.

O impacto dos vazamentos de documentos do WikiLeaks sobre a guerra no Afeganistão, ocorridos em 2010, representa um divisor de águas na percepção pública acerca do envolvimento militar dos Estados Unidos no exterior. Esses vazamentos, que incluíram mais de 90 mil documentos, expuseram atividades ilícitas e abusos cometidos pelas forças norte-americanas, desafiando a narrativa de que tais operações eram sempre motivadas por intenções democráticas e humanitárias.

Um dos arquivos mais notórios foi o vídeo intitulado “Collateral Murder”, que mostrava soldados americanos assassinando civis, incluindo crianças, com uma indiferença chocante, comparável à de um jogo de videogame. As reações a essas revelações colocaram em xeque a imagem de civismo e moralidade frequentemente associada às intervenções militares dos EUA.

Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, cumpriu anos de encarceramento antes de ser libertado, retornando à Austrália após um acordo com as autoridades dos EUA. O professor Sérgio Amadeu, da Universidade Federal do ABC, argumenta que as informações divulgadas não foram contestadas quanto à veracidade, o que acentuou a perda de credibilidade do discurso oficial sobre os objetivos das intervenções norte-americanas.

Além das práticas de guerra chocantes, o caso de Assange levanta questões sobre a liberdade de imprensa e a censura nos Estados Unidos. Para muitos comentaristas, a perseguição a Assange evidencia os limites impostos à liberdade de expressão, especialmente no que diz respeito à segurança nacional.

O historiador Gabriel Kanaan, da Universidade Federal Fluminense, destaca que, embora a brutalidade dos documentos tenha abalado seriamente a retórica oficial dos EUA, o impacto real foi limitado, já que os principais meios de comunicação filtraram as informações. Os relatos, frequentemente apresentados como exceções à regra, não conseguiram provocar uma análise mais profunda sobre os interesses econômicos e geopolíticos que motivam as ações militares dos Estados Unidos.

Quinze anos após os vazamentos, a potência militar americana ainda enfrenta muitos desafios, incluindo a crescente interdependência entre o complexo militar-industrial e as gigantes de tecnologia. A necessidade de colaboração com essas empresas, especialmente em áreas como inteligência artificial e dados, marca uma nova era na condução das operações militares.

Esses documentos também revelaram interesses ocultos por trás da chamada “guerra ao terrorismo”, ao expor o que muitos consideram uma busca disfarçada por petróleo, especialmente no Oriente Médio. E o acesso em tempo real a esse tipo de informação, algo sem precedentes, permitiu um entendimento mais profundo das reais motivações que guiaram as intervenções militares.

Em um contexto global onde a influência dos EUA está em declínio, especialistas argumentam que a elite americana ainda busca recuperar sua hegemonia, enquanto a narrativa de moralidade que uma vez sustentou suas intervenções militares sofre um desmantelamento crescente, refletindo uma crise profunda na abordagem da democracia liberal moderna. Dessa maneira, os desafios contemporâneos revelam uma complexidade ainda maior nas dinâmicas de poder, tanto internas quanto externas.

Sair da versão mobile